sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
Árvore de Natal do Amor
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
"A coisa tá ficando russa"
sábado, 6 de dezembro de 2008
Trilha sonora para uma vida
Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
.
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
.
Let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
.
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
.
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
.
Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
.
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
.
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
.
Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
.
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
.
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
.
Dance me to the end of love
.
Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
.
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
.
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Monumento Luz
.............................................Para Nicolau Kietzmann
Que estou plenamente despida em meio à Cidade Luz, isto se vê a olhos nus. O mais instigante é saber como tudo começou. Vou contar-lhes, vou contar a todos os habitantes desta cidade e do mundo! Inclusive porque esta cidade não será mais a mesma, não após este ocorrido. Nada toca sem ser tocado e esta cidade me tocou então está feito. Sem mais, conto-lhes tudo agora!
Começou na madrugada, esta hora sem rédeas, não eram nem cinco horas da manhã e eu mirava o céu lilás-cinza, tonalidade de esquisitice belíssima, entremeado pelos galhos das árvores já despidas para o outono, estação que é a minha também. Fazia isso livremente, pois é hábito meu de viagem conhecer as horas pouco visitadas da vida.
Do banco verde-petróleo que me acolhia avistei um jogger, disciplinado esportista, que até mesmo em pleno Novembro europeu sai às ruas para exercitar-se. Ele vinha saltitante e, de repente, acreditem que foi assim sem mais e nem menos, ele sumiu! Isso mesmo. Sumiu um sumir estranho em que o resto todo quedou e só ele empalideceu da vida como uma aquarela. O mais curioso foi que ele continuou correndo, isto é, a sua silhueta, como se um vão de luz ouvesse usurpado-o. Dá para imaginar?
Eu não dei bola, de primeiro. Era cedo, como lhes disse, eu ainda sonolenta, poderia ser sonho ou alucinação, por isso pouco me importei. No entanto, logo veio a confirmação de que algo diferente realmente estava acontecendo. Avistei uma mulher levando na guia um cão galgo. Ela cruzou o boulevard inteiro, atravessando de um extremo ao outro do meu campo de visão, absolutamente fantasmagórica. Entrou pela esquerda como vão de luz e saiu pela direita como vão de luz. Coçei os olhos. Fechei-os por alguns instantes por descanso, ainda pensando não ser nada demais. Na escuridão, veio-me a doce lembrança de estarmos correndo juntos no parque, eu e o meu amor, em outro tempo, outro espaço longínquo. Lembrei também de nossos passeios com os cães nas manhãs quente da que é a minha terra. Aconchegada nesta lembrança, apesar do frio estático e a rigidez do banco da praça, eu adormeci.
Este poderia ter sido o início e o fim da história, mas não foi e é por isso que lhes conto-a em pleno detalhe. Acordei quando o dia já neblinava e resolvi dar um passeio pelo bairro que é o meu favorito. O Les Marais, particularmente no entorno da Place de Vosges, sempre me encantou com sua música de esquina, os ângulos mouriscos de seus arcos, a cor areia de suas pedras e o artesanal de seu comércio. É como se o bairro sobrevivesse a Revolução Industrial em pleno coração da Europa. Caminhei despreocupada para ver a praça, apressei-me em sua direção e eis que lá avistei os casais sempre enamorados deitados nos bancos. Instantâneamente, claro, lembrei daquele que é o meu amor e, de repente, surpreendentemente, os casais empalideceram assim como os joggers de antes. Não desapareciam de todo, entendam! Seu contorno permanecera intacto, seu recheio é que cedera, restando o vão de sua luz.
Abismada, no centro da praça, observei-os indo um a um. Todos os casais dali, todas as cenas de ternura cediam ao encontro do meu olhar, como num fantástico jogo de dominó. Não tive medo. Não é um fenômeno de assustar, acreditem. É só estranho, mas não assusta e, curiosamente, engrandeçe. Fiquei ali um longo tempo pensando em como seria bom estar ali com ele, como o meu amor, e ver preencher cada um daqueles vãos com o nosso riso. Passei a sorrir sozinha, meio ao inverno gélido, enquanto as lágrimas congelavam estalactites sobre minha face.
O tempo passou e resolvi partir em revoada. Mal caminhei meio quarteirão e uma moto preta estacionada na frente do Musée Carnavale, igualzinha a do meu amor, desapareceu! Da mesma forma que os outros. Após o desaparecimento em duas rodas, cada motoqueiro que passava parecia voar sobre um pássaro branco, pois com aquela primeira foram-se todas as motos da cidade ou do mundo (eu não sabia o quão avassalador seria este fenômeno)! Pensava em como teríamos nos divertido numa destas vespas por aqui, enquanto a cidade tornava-se notadamente distinta do usual esses empalidecimentos. Ainda assim, não tive medo. O coração aceitou bem a mudança, sentia-o crescendo dentro de mim, com o pulsar de um polvo do mar.
Aos poucos, o fenômeno foi tomando conta de tudo. O meio fio aonde o meu amor, este mais despojado de todos os seres gosta de sentar-se (e o faz com todo o charme), foi-se! Restaram as ruas e as calçadas, por onde eu caminhava, como que suspensas no vão. Seria um sonho surrealista? Passei a achar aquilo emocionante! O céu brilhava chamando minha atenção para o alto dos prédios parisienses. Cada ruela desta cidade tem sua gola invertida rendada por apartamentos com varandinhas repletas de flores e estas flores, as mesmas que meu amor cultua, começaram a empalidecer também da vida, uma a uma, enquanto eu sonhava em como teria sido se um destes batimênts tivesse sido o nosso pouso, canto para um vinho ao luar e paixão contra as grades. Prédios de apartamentos inteiros uniam-se ao vão de luz iniciado pelo esportista, as motos e os amantes da Place des Vosges.
Comecei a compreender que havia relação entre o amor, este dentro do meu peito, e aqueles empalidecimentos na cidade luz, mas não ousei interpretar nada. Quem sou eu para isso? Soube que cada detalhe que me lembrasse do meu amor, este homem que amo, empalideceria frente aos meus olhos, como se não fossem merecedores de cor plena ou vida uma vez que não realizariam sua vocação de cenário para o nosso amor. Aceitei isso, que a força do meu sonho era maior do que eles. Creio que eu roubava-lhes a luz e trazia toda sua força vital para o meu coração que ia inchando e inchando. Sendo assim, eu caminhava cada vez mais alegre e desenvolta pelas ruas suspensas, agindo sem pudor algum em roubar esquinas e os trechos mais românticos das pontes que costuram o Rio Seine. Exaltava-me!
Entrei no Jardin du Luxemboug e, imediatamente, todos os pares de cadeiras verde-água empalideceram. Quem nelas sentava, caiu de bunda ao solo! Cada chemin de promenade, margeado das folhas amarelas de outono, aonde teríamos caminhado alegremente, esvaia-se. Os pombos gordos, eu corria atrás deles e eles logo decolavam para o grande vão, pois teríamos corrido atrás deles juntos. Eu ria, enquanto o cenário ia-se quase todo! Restaram somente as estátuas de pedra com sua empáfia, imunes ao meu calor interior, imortais, sem compreender o que é vida.
Que estou plenamente despida em meio à Cidade Luz, isto se vê a olhos nus. O mais instigante é saber como tudo começou. Vou contar-lhes, vou contar a todos os habitantes desta cidade e do mundo! Inclusive porque esta cidade não será mais a mesma, não após este ocorrido. Nada toca sem ser tocado e esta cidade me tocou então está feito. Sem mais, conto-lhes tudo agora!
Começou na madrugada, esta hora sem rédeas, não eram nem cinco horas da manhã e eu mirava o céu lilás-cinza, tonalidade de esquisitice belíssima, entremeado pelos galhos das árvores já despidas para o outono, estação que é a minha também. Fazia isso livremente, pois é hábito meu de viagem conhecer as horas pouco visitadas da vida.
Do banco verde-petróleo que me acolhia avistei um jogger, disciplinado esportista, que até mesmo em pleno Novembro europeu sai às ruas para exercitar-se. Ele vinha saltitante e, de repente, acreditem que foi assim sem mais e nem menos, ele sumiu! Isso mesmo. Sumiu um sumir estranho em que o resto todo quedou e só ele empalideceu da vida como uma aquarela. O mais curioso foi que ele continuou correndo, isto é, a sua silhueta, como se um vão de luz ouvesse usurpado-o. Dá para imaginar?
Eu não dei bola, de primeiro. Era cedo, como lhes disse, eu ainda sonolenta, poderia ser sonho ou alucinação, por isso pouco me importei. No entanto, logo veio a confirmação de que algo diferente realmente estava acontecendo. Avistei uma mulher levando na guia um cão galgo. Ela cruzou o boulevard inteiro, atravessando de um extremo ao outro do meu campo de visão, absolutamente fantasmagórica. Entrou pela esquerda como vão de luz e saiu pela direita como vão de luz. Coçei os olhos. Fechei-os por alguns instantes por descanso, ainda pensando não ser nada demais. Na escuridão, veio-me a doce lembrança de estarmos correndo juntos no parque, eu e o meu amor, em outro tempo, outro espaço longínquo. Lembrei também de nossos passeios com os cães nas manhãs quente da que é a minha terra. Aconchegada nesta lembrança, apesar do frio estático e a rigidez do banco da praça, eu adormeci.
Este poderia ter sido o início e o fim da história, mas não foi e é por isso que lhes conto-a em pleno detalhe. Acordei quando o dia já neblinava e resolvi dar um passeio pelo bairro que é o meu favorito. O Les Marais, particularmente no entorno da Place de Vosges, sempre me encantou com sua música de esquina, os ângulos mouriscos de seus arcos, a cor areia de suas pedras e o artesanal de seu comércio. É como se o bairro sobrevivesse a Revolução Industrial em pleno coração da Europa. Caminhei despreocupada para ver a praça, apressei-me em sua direção e eis que lá avistei os casais sempre enamorados deitados nos bancos. Instantâneamente, claro, lembrei daquele que é o meu amor e, de repente, surpreendentemente, os casais empalideceram assim como os joggers de antes. Não desapareciam de todo, entendam! Seu contorno permanecera intacto, seu recheio é que cedera, restando o vão de sua luz.
Abismada, no centro da praça, observei-os indo um a um. Todos os casais dali, todas as cenas de ternura cediam ao encontro do meu olhar, como num fantástico jogo de dominó. Não tive medo. Não é um fenômeno de assustar, acreditem. É só estranho, mas não assusta e, curiosamente, engrandeçe. Fiquei ali um longo tempo pensando em como seria bom estar ali com ele, como o meu amor, e ver preencher cada um daqueles vãos com o nosso riso. Passei a sorrir sozinha, meio ao inverno gélido, enquanto as lágrimas congelavam estalactites sobre minha face.
O tempo passou e resolvi partir em revoada. Mal caminhei meio quarteirão e uma moto preta estacionada na frente do Musée Carnavale, igualzinha a do meu amor, desapareceu! Da mesma forma que os outros. Após o desaparecimento em duas rodas, cada motoqueiro que passava parecia voar sobre um pássaro branco, pois com aquela primeira foram-se todas as motos da cidade ou do mundo (eu não sabia o quão avassalador seria este fenômeno)! Pensava em como teríamos nos divertido numa destas vespas por aqui, enquanto a cidade tornava-se notadamente distinta do usual esses empalidecimentos. Ainda assim, não tive medo. O coração aceitou bem a mudança, sentia-o crescendo dentro de mim, com o pulsar de um polvo do mar.
Aos poucos, o fenômeno foi tomando conta de tudo. O meio fio aonde o meu amor, este mais despojado de todos os seres gosta de sentar-se (e o faz com todo o charme), foi-se! Restaram as ruas e as calçadas, por onde eu caminhava, como que suspensas no vão. Seria um sonho surrealista? Passei a achar aquilo emocionante! O céu brilhava chamando minha atenção para o alto dos prédios parisienses. Cada ruela desta cidade tem sua gola invertida rendada por apartamentos com varandinhas repletas de flores e estas flores, as mesmas que meu amor cultua, começaram a empalidecer também da vida, uma a uma, enquanto eu sonhava em como teria sido se um destes batimênts tivesse sido o nosso pouso, canto para um vinho ao luar e paixão contra as grades. Prédios de apartamentos inteiros uniam-se ao vão de luz iniciado pelo esportista, as motos e os amantes da Place des Vosges.
Comecei a compreender que havia relação entre o amor, este dentro do meu peito, e aqueles empalidecimentos na cidade luz, mas não ousei interpretar nada. Quem sou eu para isso? Soube que cada detalhe que me lembrasse do meu amor, este homem que amo, empalideceria frente aos meus olhos, como se não fossem merecedores de cor plena ou vida uma vez que não realizariam sua vocação de cenário para o nosso amor. Aceitei isso, que a força do meu sonho era maior do que eles. Creio que eu roubava-lhes a luz e trazia toda sua força vital para o meu coração que ia inchando e inchando. Sendo assim, eu caminhava cada vez mais alegre e desenvolta pelas ruas suspensas, agindo sem pudor algum em roubar esquinas e os trechos mais românticos das pontes que costuram o Rio Seine. Exaltava-me!
Entrei no Jardin du Luxemboug e, imediatamente, todos os pares de cadeiras verde-água empalideceram. Quem nelas sentava, caiu de bunda ao solo! Cada chemin de promenade, margeado das folhas amarelas de outono, aonde teríamos caminhado alegremente, esvaia-se. Os pombos gordos, eu corria atrás deles e eles logo decolavam para o grande vão, pois teríamos corrido atrás deles juntos. Eu ria, enquanto o cenário ia-se quase todo! Restaram somente as estátuas de pedra com sua empáfia, imunes ao meu calor interior, imortais, sem compreender o que é vida.
.
Era meados da manhã quando perambulei até um bistrô na beira do Jardin. Sentei-me numa mesinha próxima à janela, mas o assento vazio na minha frente era convite aberto para imaginar os olhares que teríamos trocado, as mãos entrelaçadas que teríamos tecido, os croissants crocantes que teríamos mordiscado, o vinho aveludado que teríamos escolhido, os profiteróles mergulhados em chocolate com o qual teríamos nos lambuzado. Não pude manter o menu aceso em minhas mãos por mais de dois minutos. Logo ele foi-se junto com a cadeira que seria dele, a mesa que seria nossa, foi-se até o garçon que faria brincadeiras de nós apaixonados e, aos poucos, foi-se o restaurante todo!
Com a rendição de quase tudo ao vão de luz, passei a caminhar por uma cidade suspensa aonde só restavam os monumentos, frios como as estátuas do Jardin. Eu conseguia ver de longe o Palais Royal, a Tour Eiffel, o Arc de Triomphe, os únicos intocados pela minha trajetória, rochas esculpidas pelos homens somente para lembrar às gerações das glórias das guerras, das vitórias retumbantes da grande nação e seus territórios conquistados. Achei-os feios, pois sou daquelas que pensa que guerra alguma produz vencedores, ao invés, produz somente múltiplos perdedores. Ao final de cada guerra, creio eu, devia-se chorar um rio sobre um leito de sementes para fazer crescer uma floresta. Devia-se desejar que esta floresta jamais testemunhe outra guerra, mas sim um mundo mais flexível, à imagem de seus hastes vegetais.
Fui caminhando e caminhando, já numa espécie de transe, em direção à Tour Eiffel, como se fosse um chamado. Confesso que foi só mesmo quando cheguei bem próxima a ela que dei-me conta da minha nudez e da transformação em meu tamanho. As roupas haviam se estilhaçado com meu crescimento. Eu não mais cabia dentro delas e nem tampouco precisava, pois o que me mantinha aquecida era outro calor. Eu havia tornado-me um ser gigante, estava da altura da Tour Eiffel, constatei. Como quem sabe o que faz, caminhei até ela e abri meus braços, como que para um grande abraço, e desafiei-a: “Aprenda Amor”. Minha voz ecoou tão fortemente que o ruído herculeano tomou de assalto cada boulevard e galeria da cidade inteira, ressoando de tal forma que eu mesma senti o impacto do retorno de minha voz como um tiro de canhão. Nunca antes dissera isto e nunca antes dissera nada com tal força. Era o anúncio de uma nova era.
Ela não respondeu. Ficamos lado a lado por um tempo, nos mirando. Minha pele branca rangia no vento frio, mas meu coração era tão gigante que eu não sentia dor, somente alegria. Vi então que tratava-se de um embate, pois restavam na cidade somente nós: eu, desta espécie na qual me transmutara, do amor, monumento personificado em vida, e ela, da guerra, monumento estilizado em morte, cada qual comemorando seu motivo. De repente, como que incomodada com a brisa que me parecia até doce, ela cedeu, a Tour Eiffel cedeu, seus notórios andaimes despedaçaram-se como pequenos fósforos e sua cúpula veio ao chão partindo-se em dois. O amor é de tal forma risível e repete-se (eu te amo, eu te amo, eu te amo...), mas quem não daria tudo, hoje, para tê-lo, verdadeiramente, nem que por um segundo? Ele é mais forte que a nação e qualquer idéia, hoje sim.
Pois, foi nesta hora que eu acordei, meus caros, e isso tudo faz somente alguns poucos minutos, foi justo antes de sentar-me para começar a escrever para contar-lhes essa história fabulosa. Talvez tenha sido um sonho (é o mais provável), mas quando olhei no relógio, justo agora, vi que já era, quero dizer que já é o dia seguinte. Não sei se foi o fuso, se dormi 24 horas ou 24 segundos, só sei que já é novamente madrugada e que elas, as madrugadas, são para mim assim. Nelas nunca sabe-se se é ontem ou hoje e isso as torna o tempo do sublime. As madrugadas foram criadas para serem habitadas pelo amor, pois é hora sem rédeas.
Era meados da manhã quando perambulei até um bistrô na beira do Jardin. Sentei-me numa mesinha próxima à janela, mas o assento vazio na minha frente era convite aberto para imaginar os olhares que teríamos trocado, as mãos entrelaçadas que teríamos tecido, os croissants crocantes que teríamos mordiscado, o vinho aveludado que teríamos escolhido, os profiteróles mergulhados em chocolate com o qual teríamos nos lambuzado. Não pude manter o menu aceso em minhas mãos por mais de dois minutos. Logo ele foi-se junto com a cadeira que seria dele, a mesa que seria nossa, foi-se até o garçon que faria brincadeiras de nós apaixonados e, aos poucos, foi-se o restaurante todo!
Com a rendição de quase tudo ao vão de luz, passei a caminhar por uma cidade suspensa aonde só restavam os monumentos, frios como as estátuas do Jardin. Eu conseguia ver de longe o Palais Royal, a Tour Eiffel, o Arc de Triomphe, os únicos intocados pela minha trajetória, rochas esculpidas pelos homens somente para lembrar às gerações das glórias das guerras, das vitórias retumbantes da grande nação e seus territórios conquistados. Achei-os feios, pois sou daquelas que pensa que guerra alguma produz vencedores, ao invés, produz somente múltiplos perdedores. Ao final de cada guerra, creio eu, devia-se chorar um rio sobre um leito de sementes para fazer crescer uma floresta. Devia-se desejar que esta floresta jamais testemunhe outra guerra, mas sim um mundo mais flexível, à imagem de seus hastes vegetais.
Fui caminhando e caminhando, já numa espécie de transe, em direção à Tour Eiffel, como se fosse um chamado. Confesso que foi só mesmo quando cheguei bem próxima a ela que dei-me conta da minha nudez e da transformação em meu tamanho. As roupas haviam se estilhaçado com meu crescimento. Eu não mais cabia dentro delas e nem tampouco precisava, pois o que me mantinha aquecida era outro calor. Eu havia tornado-me um ser gigante, estava da altura da Tour Eiffel, constatei. Como quem sabe o que faz, caminhei até ela e abri meus braços, como que para um grande abraço, e desafiei-a: “Aprenda Amor”. Minha voz ecoou tão fortemente que o ruído herculeano tomou de assalto cada boulevard e galeria da cidade inteira, ressoando de tal forma que eu mesma senti o impacto do retorno de minha voz como um tiro de canhão. Nunca antes dissera isto e nunca antes dissera nada com tal força. Era o anúncio de uma nova era.
Ela não respondeu. Ficamos lado a lado por um tempo, nos mirando. Minha pele branca rangia no vento frio, mas meu coração era tão gigante que eu não sentia dor, somente alegria. Vi então que tratava-se de um embate, pois restavam na cidade somente nós: eu, desta espécie na qual me transmutara, do amor, monumento personificado em vida, e ela, da guerra, monumento estilizado em morte, cada qual comemorando seu motivo. De repente, como que incomodada com a brisa que me parecia até doce, ela cedeu, a Tour Eiffel cedeu, seus notórios andaimes despedaçaram-se como pequenos fósforos e sua cúpula veio ao chão partindo-se em dois. O amor é de tal forma risível e repete-se (eu te amo, eu te amo, eu te amo...), mas quem não daria tudo, hoje, para tê-lo, verdadeiramente, nem que por um segundo? Ele é mais forte que a nação e qualquer idéia, hoje sim.
Pois, foi nesta hora que eu acordei, meus caros, e isso tudo faz somente alguns poucos minutos, foi justo antes de sentar-me para começar a escrever para contar-lhes essa história fabulosa. Talvez tenha sido um sonho (é o mais provável), mas quando olhei no relógio, justo agora, vi que já era, quero dizer que já é o dia seguinte. Não sei se foi o fuso, se dormi 24 horas ou 24 segundos, só sei que já é novamente madrugada e que elas, as madrugadas, são para mim assim. Nelas nunca sabe-se se é ontem ou hoje e isso as torna o tempo do sublime. As madrugadas foram criadas para serem habitadas pelo amor, pois é hora sem rédeas.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Guerrilheira Revolucionária
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Voyeur da Vida
Vale mais ir à noite do fetiche
do que à missa de Domingo,
aonde velam-se os hipócritas.
.
Não que
a dor na ponta do chicote e
a humilhação ajoelhada
sejam coisas que valham
erguer em totem,
no entanto,
são coisas
tão humanas.
.
Apanhar na cara
ou ajoelhar-se perante cristo?
Chicotear o outro
ou subir ao púlpito?
.
Houve tempos em que frequentei
os templos de Domingo.
Agora vou à noite do fetiche
no Áudio Delicatessen.
do que à missa de Domingo,
aonde velam-se os hipócritas.
.
Não que
a dor na ponta do chicote e
a humilhação ajoelhada
sejam coisas que valham
erguer em totem,
no entanto,
são coisas
tão humanas.
.
Apanhar na cara
ou ajoelhar-se perante cristo?
Chicotear o outro
ou subir ao púlpito?
.
Houve tempos em que frequentei
os templos de Domingo.
Agora vou à noite do fetiche
no Áudio Delicatessen.
sábado, 22 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Coreia do Sul
Era para ser so uma escala, mas esta sendo bem mais do que isso. Parti de Moscow ontem em direcao ao Japao e tinha esta parada em Seul, mas mal pensei nela. Foi sobrevoando o mar, recortado de quebra-ondas e uma frota industrial que chamou a atencao que eu me dei conta que este e o pais, um dos poucos paises do mundo que deu o sonhado salto desenvolvimentista no Seculo XX, no qual amanheceu pais em desenvolvimento e adormeceu desenvolvido. Conseguiu concluir seu projeto educacional universal, um sistema de saude decente, conseguiu incentivas suas industrias sem torna-las vicidadas em mamatas (acreditem, e possivel!). Chegando no aeroporto eu vi que o negocio e mesmo porreta! Sem brincadeira, este aeroporto, no qual eu ficarei ao todo oito horas tem TUDO! Desde hotel para quem esta em transito, lojas, restaurantes, mas tambem um centro cultural da Coreia, demonstrativos sobre a comida e as artes, alem de sala de massagem, "arte para as unhas", internet de graca em laptops de ultima geracao...tudo lindo, moderno, gratuitio e bem pensado. Realmente, fiquei com vontade de sair para conhecer a cidade, mas vai ter que ficar para a proxima!
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Amanha!
Amanha e a data em que se comemorava a Revolucao Russa, ocorrida em 1917. O novo governo nao comemora esta data, ao inves comemora no mesmo periodo a vitoria contra a Polonia no Seculo 19 (para os russos nao perderem um feriado)!
De qualquer forma, chego em Moscow amanha as seis da manha e vou correndo para a Praca Vermelha ver se alguem estara por la comemorando o evento que "tinha que acontecer" na historia: e esta a teoria que formulei depois de passar esses dias por aqui, depois escreverei mais sobre isso...
De qualquer forma, chego em Moscow amanha as seis da manha e vou correndo para a Praca Vermelha ver se alguem estara por la comemorando o evento que "tinha que acontecer" na historia: e esta a teoria que formulei depois de passar esses dias por aqui, depois escreverei mais sobre isso...
Casa de Dostoievski
Compartilho a emocao (mesmo sem acentos) de ter visitado neste minuto a casa de Dostoievski em Sao Petesburgo, cidade das almas penadas, construida por Pedro o Grande sobre um pantano, com mao-de-obra escrava; nesta obra ficaram muitas almas e nas enchentes que vieram quando a natureza buscou ainda resgatar seu espaco tambem. Ainda depois, durante o famoso Bloqueio de Leningrado (nome desta cidade entao), morreram um milhao de pessoas aqui, de fome, apos terem praticado antropofagia inclusive. Enfim, nesta cidade viveu este homem hipnotico que escreveu numa mesa muito simples grandes obras literarias. Amava sua esposa, era homem de famlia que dizia que tres quartos da felicidade da vida provem da vida familiar. Ontem assisti a opera de Os Irmaos Karamazov no Teatro Mariinsky...uma grande emocao! Saudades da terrinha, do meu amor, mas feliz, muito feliz de estar aqui.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Rumo à Russia
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Haviam planos de escrever um cahiers de voyage online no blog, mas não há como saber que grau de acesso à net terei durante a viagem.
Sempre que puder passo por aqui!
domingo, 26 de outubro de 2008
Em branco
.....A hora do voto é a hora da verdade. Diga o que diga, pense o que pense, quando passamos pelo portão do local de votação o coração bate mais forte. É a hora da verdade. Pode-se nem ligar para política e desacreditar da democracia, mas ali não há como evitar uma coisa que é muito evitada: tomar partido.
.....Hoje na hora do voto foi emocionante. Vinha surfando o movimento da minha cidade, a vontade “baixar a crista” de Marta e do PT, que está muito confortável no poder, e pensando em votar no novo prefeitão, o Kassab, que é bem no estilo que o paulistano gosta, pois é destes que “tem peito” de fechar os bares da zona sul com tijolos e rótulos de LACRADO que impedem até o dono de entrar, numa releitura do estilo do famoso Jânio Quadros que até descia do seu carro para multar infratores de trânsito na rua!
.....Mas na hora...em pensar naqueles que o cercam...em pensar no seu projeto político que não há, que é invisível...em pensar que o DEM é o PFL...em pensar que ele tem Andrea Matarazzo como braço direito, o que indica que ele é de uma turminha da pesada. Não consegui. Pensei na opção Marta. Será que é preconceito? Por ela ser mulher, sexóloga, ter deixado o bom marido pelo franco-argentino-gangster que bate nela na cama? O PT é, afinal, o partido do desgoverno democrático por essência, é o partido que agrega as mais diversas correntes populares do Brasil. Mas na hora...
.....Resolvi então votar em branco, pela primeira vez na vida. Não soube em quem votar. Não me identifico com nenhum dos candidatos. Não quis votar de forma obtusa, “para o fulano perder.”
.....Meu voto hoje foi um branco como um vácuo, restrato do olhar parado do eleitor perplexo.
.....Hoje na hora do voto foi emocionante. Vinha surfando o movimento da minha cidade, a vontade “baixar a crista” de Marta e do PT, que está muito confortável no poder, e pensando em votar no novo prefeitão, o Kassab, que é bem no estilo que o paulistano gosta, pois é destes que “tem peito” de fechar os bares da zona sul com tijolos e rótulos de LACRADO que impedem até o dono de entrar, numa releitura do estilo do famoso Jânio Quadros que até descia do seu carro para multar infratores de trânsito na rua!
.....Mas na hora...em pensar naqueles que o cercam...em pensar no seu projeto político que não há, que é invisível...em pensar que o DEM é o PFL...em pensar que ele tem Andrea Matarazzo como braço direito, o que indica que ele é de uma turminha da pesada. Não consegui. Pensei na opção Marta. Será que é preconceito? Por ela ser mulher, sexóloga, ter deixado o bom marido pelo franco-argentino-gangster que bate nela na cama? O PT é, afinal, o partido do desgoverno democrático por essência, é o partido que agrega as mais diversas correntes populares do Brasil. Mas na hora...
.....Resolvi então votar em branco, pela primeira vez na vida. Não soube em quem votar. Não me identifico com nenhum dos candidatos. Não quis votar de forma obtusa, “para o fulano perder.”
.....Meu voto hoje foi um branco como um vácuo, restrato do olhar parado do eleitor perplexo.
Balada II
O efeito que a bebida surte nas pessoas é um tema que sempre me fascinou.
.....Na cultura grega dizia-se que o efeito que o Deus Bacco provoca nas pessoas é denominado entusiasmo (uma de minhas palavras favoritas!), o que significava estar "em um" com Deus. Ou seja, nesta tradição, a elevação causada pelo álcool aproxima-nos de nós mesmos, da espiritualidade e daquilo que somos em transcendência.
......Numa destas altas madrugadas que venho habitando batíamos papo sobre este tema e perguntei aos nocturnos (pessoas que vivem na noite) o que eles achavam: a bebida nos aproxima ou distancia daquilo que realmente somos?
.....A pergunta sempre surte efeito desconcertante, mas para o segurança da noite, aquele que não bebe, pois é o guardião, não houve dúvida: "A bebida faz a pessoa ser aquilo que ela queria e não tem coragem de ser"
.....O que vocês acham?
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Parque Ibi...
(no maravilhoso Dicionário das Palavras Brasileiras de Origem Indígena, de Clóvis Chiaradia, diz que Ibirapuera ou ibirá-puera, quer dizer: que foi árvore, que foi mata ou árvore velha.)
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
O Caso Eloá
Hoje no blog da Márcia Bechara http://marciabechara.blogspot.com/ tem um post muito interessante sobre o Caso Eloá, em que ela chama a atenção para o aspecto machista do sequestro, cárcere privado e assassinato da menina de 15 anos. Em nenhum momento a mídia deu o nome correto ao ato: feminicídio. Creio eu que seja essencial olhar por este ângulo os acontecimentos, pois é mesmo de surpreender que em 2008, entre jovens de 15-20 anos, ainda paire o pensamento de que uma mulher não possa escolher seu namorado e depois escolher não mais o ter como namorado sem estar sujeita a este tipo de reação. A dificuldade de aceitação desta escolha por parte do tal Lindembergue, por mais que tenha sido inflada por alguma doença mental ou desequilíbrio emocional, teve como fator instigante o machismo, vivo e viril, até mesmo mais de um século após o início da revolução feminista. Vejam mais no blog da Marcia!
domingo, 19 de outubro de 2008
Balada
Sintoma dos tempos confusos é o colapso das palavras. No recinto ensurdecido pelos sonidos estridentes das máquinas eletrônicas, o motor que move os seres é o álcool. Em direção ao bar iluminado de elixires coloridos e florescentes. Como em Damien Hirsch, o bar é a farmácia do novo século. Os seres secos se movem da porta de entrada para o balcão e seus olhos mudos imploram por copos grandes repletos de frutas amarelas, pequenas garrafas marrons com selos das marcas do fermento ou as grandes em tons de sangue e anil. Jorram dezenas e centenas de moedas de seus bolsos para rodar a engrenagem do negócio, afinal, é isto o que há que não é confuso. Abastecidos, olham-se entre si os seres, ocasionalmente, quando não se perdem nas telas de ação exógena. A visão é o sentido que resta, substitui a compreensão e tatua nas peles translúcidas os símbolos, perfura nos orifícios salientes os totens, colore nos pêlos dos corpos as nuances. A loira de mechas roxas com um unicórnio nas costas nuas do decote flerta com o rastafári de seis bastões atravessados na cartilagem da narina esquerda. Eles lêem-se. Ela se aproxima. Ele puxa seus cabelos para trás e a beija. Gatos pardos na noite.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
L'Esprit II
Quando um homem...
cita Clarice no primeiro encontro,
sabe em que ponto do Livro dos Prazeres Lorelei descobre-se,
tem (também!) Jack London como livro de cabeçeira e
ainda recita Borges nos e-mails da tarde...
saiba que: f*deu
e corra para os seus braços!
cita Clarice no primeiro encontro,
sabe em que ponto do Livro dos Prazeres Lorelei descobre-se,
tem (também!) Jack London como livro de cabeçeira e
ainda recita Borges nos e-mails da tarde...
saiba que: f*deu
e corra para os seus braços!
Arte Poética, de Borges
Mirar el río hecho de tiempo y agua
Y recordar que el tiempo es otro río,
Saber que nos perdemos como el río
Y que los rostros pasan como el agua.
Sentir que la vigilia es otro sueño
Que sueña no soñar y que la muerte
Que teme nuestra carne es esa muerte
De cada noche, que se llama sueño.
Ver en el día o en el año un símbolo
De los días del hombre y de sus años,
Convertir el ultraje de los años
En una música, un rumor y un símbolo,
Ver en la muerte el sueño, en el ocaso
Un triste oro, tal es la poesía
Que es inmortal y pobre. La poesía
Vuelve como la aurora y el ocaso.
A veces en las tardes una cara
Nos mira desde el fondo de un espejo;
El arte debe ser como ese espejo
Que nos revela nuestra propia cara.
Cuentan que Ulises, harto de prodigios,
Lloró de amor al divisar su Itaca
Verde y humilde. El arte es esa Itaca
De verde eternidad, no de prodigios.
También es como el río interminable
Que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
Y es otro, como el río interminable.
Y recordar que el tiempo es otro río,
Saber que nos perdemos como el río
Y que los rostros pasan como el agua.
Sentir que la vigilia es otro sueño
Que sueña no soñar y que la muerte
Que teme nuestra carne es esa muerte
De cada noche, que se llama sueño.
Ver en el día o en el año un símbolo
De los días del hombre y de sus años,
Convertir el ultraje de los años
En una música, un rumor y un símbolo,
Ver en la muerte el sueño, en el ocaso
Un triste oro, tal es la poesía
Que es inmortal y pobre. La poesía
Vuelve como la aurora y el ocaso.
A veces en las tardes una cara
Nos mira desde el fondo de un espejo;
El arte debe ser como ese espejo
Que nos revela nuestra propia cara.
Cuentan que Ulises, harto de prodigios,
Lloró de amor al divisar su Itaca
Verde y humilde. El arte es esa Itaca
De verde eternidad, no de prodigios.
También es como el río interminable
Que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
Y es otro, como el río interminable.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
L'Esprit
Há poesia que
jamais (re)pousa
em papel.
Vive livre
viaduto a vida.
Flama de fogueira
que estrala no ar
(ou no mar)
nas noites estreladas
de São João
(ou não).
jamais (re)pousa
em papel.
Vive livre
viaduto a vida.
Flama de fogueira
que estrala no ar
(ou no mar)
nas noites estreladas
de São João
(ou não).
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
O Fog
.....Nasci no meio do nevoeiro, no fog. Por esta razão, minha visão das coisas foi sempre limitada, mas assim me acostumei. No fog um homem feio não assusta, pois tem a feiúra atenuada na incerteza. Os lobos nós só vemos quando eles já estão perto o bastante para sabermos que não nos atacarão. No fog vive-se no presente e valem mais as palavras sussurradas e os gestos praticados. Tão entregue a este universo, tornei-me um ser sensual que gostava de tocar nas coisas, acariciá-las, caminhar sem saber para onde e até deixar-me levar pela ventania como se fosse folha. Sentia a vida ao invés de encará-la. Fui feliz, não há como negar.
.....Havia sempre um velho sentado no banco do parque do Hampstead Heath que me dizia, “Menina, você não presta atenção nas coisas. Qualquer dia vai cair dentro de um buraco.” Eu ouvia sua voz na bruma, cética de todo, ria da barbona branca dele e saia perambulando pela vida a fora. Passava os dias na rua e as noites também, pois às vezes nem dentre estes eu distinguia em meio a tantas emoções.
.....Um dia eu cantarolava pela beira do Rio Tâmisa e pluft - cai dentro de um buraco. Lembrei-me do velho. Sei que alguém gordo me alçou de volta e bombeiros vermelhos me levaram para um hospital na cidade. No início foi terrível, pois minha doença dissipou a névoa. Passei a ver tudo nitidamente. Tive medo dos médicos, pavor dos cachorros do outro lado das ruas, pânico dos policiais e dos políticos na TV. Tudo o que eu queria era curar-me para voltar para a vida no fog.
.....Havia sempre um velho sentado no banco do parque do Hampstead Heath que me dizia, “Menina, você não presta atenção nas coisas. Qualquer dia vai cair dentro de um buraco.” Eu ouvia sua voz na bruma, cética de todo, ria da barbona branca dele e saia perambulando pela vida a fora. Passava os dias na rua e as noites também, pois às vezes nem dentre estes eu distinguia em meio a tantas emoções.
.....Um dia eu cantarolava pela beira do Rio Tâmisa e pluft - cai dentro de um buraco. Lembrei-me do velho. Sei que alguém gordo me alçou de volta e bombeiros vermelhos me levaram para um hospital na cidade. No início foi terrível, pois minha doença dissipou a névoa. Passei a ver tudo nitidamente. Tive medo dos médicos, pavor dos cachorros do outro lado das ruas, pânico dos policiais e dos políticos na TV. Tudo o que eu queria era curar-me para voltar para a vida no fog.
.....Quando finalmente recebi alta corri rumo ao meu bairro Hampstead. Quando cheguei lá, que tristeza, vi que o nevoeiro tinha se dissipado ali também. Corri para o parque, que era mais ao alto, mas mesmo lá não havia mais nada. Enxergava tudo, árduamente tudo. Desesperei-me!
.....Foi quando ouvi a voz do velho me chamando. Fui até ele e inquiri sobre o porquê de tal punição. Ele me disse, “Eu não te disse que um dia você ia cair dentro de um buraco?” “Mas o que tem o buraco a ver com isso?” “O buraco, menina, é o que ensina a gente que as estruturas existem, não só as sensações.” “Mas porque a névoa se foi?” “Ela não se foi. Ela nunca existiu. Vivia dentro de você, assim como um dia viveu dentro de mim. Depois que se cai no buraco, ela vai embora da gente.” Abismei-me, “Você também caiu no buraco?” “Cai.” “Faz tempo?” mirei a sujeira de sua barba mal feita. “Faz.” “Porque isso acontece?” “Não sei” ele disse resignado. “Desde então, o que você faz?” “Fico sentado aqui no banco do parque esperando o inverno. É o ponto mais alto da cidade. Às vezes, o fog vem e fica por algumas horas.”
.....Olhei para o horizonte do fim de tarde e a abundância verde das árvores que o cercavam. Era um lugar bonito, apesar de melancólico, “Posso sentar-me contigo?” Ele permaneceu quieto por um tempo, depois disse, “Pode. Saiba que ela pode demorar.” “Eu espero-a.”
.....Foi quando ouvi a voz do velho me chamando. Fui até ele e inquiri sobre o porquê de tal punição. Ele me disse, “Eu não te disse que um dia você ia cair dentro de um buraco?” “Mas o que tem o buraco a ver com isso?” “O buraco, menina, é o que ensina a gente que as estruturas existem, não só as sensações.” “Mas porque a névoa se foi?” “Ela não se foi. Ela nunca existiu. Vivia dentro de você, assim como um dia viveu dentro de mim. Depois que se cai no buraco, ela vai embora da gente.” Abismei-me, “Você também caiu no buraco?” “Cai.” “Faz tempo?” mirei a sujeira de sua barba mal feita. “Faz.” “Porque isso acontece?” “Não sei” ele disse resignado. “Desde então, o que você faz?” “Fico sentado aqui no banco do parque esperando o inverno. É o ponto mais alto da cidade. Às vezes, o fog vem e fica por algumas horas.”
.....Olhei para o horizonte do fim de tarde e a abundância verde das árvores que o cercavam. Era um lugar bonito, apesar de melancólico, “Posso sentar-me contigo?” Ele permaneceu quieto por um tempo, depois disse, “Pode. Saiba que ela pode demorar.” “Eu espero-a.”
O inexorável ser
Para Charles Trocate
A folha é verde
como você é negro
e eu sou branca.
Suas asas
lhe revoam pelo céu.
Minhas raízes
me agarram às pedras.
Sou orquídea de pedra e
você é besouro de chapada.
O penhasco é íngreme.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Engenheiros do Hawai
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração...
.
Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...
.
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Sem querer eles me deram
as chaves que abrem essa prisão...
.
Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração...
.
Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...
.
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Sem querer eles me deram
as chaves que abrem essa prisão...
.
Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Ser minoria
.....Num dia como o do resultado das eleições é que se percebe como se é minoria. Minha candidata (Soninha) recebeu 266.978 votos, numa cidade de 18 milhões de habitantes. Nem todos votam, mas dentre os que votam só 4.19% deles votaram nela. Isso me diz que vivo cercada de 95.81% de pessoas que pensam diferentemente de mim - em relação ao candidato, ao que a cidade precisa, à política local. Cruz credo!!!!!!!!!!!!!!
.....Ao longo desses dias, no ponto de ônibus ou na ante-sala do teatro, fui ouvindo as curiosas opiniões das pessoas sobre as eleições. Ouvi oposição ao Kassab porque a Lei Cidade Limpa (da qual eu sou super fã) acabou com emprego dos postadores de outdoors. Ouvi apoio ao Kassab por ele ser o "anti-Marta", como se fosse uma espécie de dedetizador! Os fãs de Marta todos se renderam à oferta de internet gratuita ou, simplesmente, votam PT aconteça o que acontecer. Alckmin é um "chuchu" todos concordam: bom para a saúde, mas sem gosto. Penso que ele é um gestor competente, mas seu fracasso eleitoral confirma que a política não é a relma dos tecnocratas. Todos anunciam estas eleições terem sido "fim de linha" para ele, mas a política brasileira vive das ressureições mais inacreditáveis então tudo pode acontecer. Aliás, Maluf, o auto-declarado melhor prefeito que SP já teve é um destes fantasmas recorrentes! Será que ele agora desiste e se aposenta nas Ilhas Cayman? Já que vai ser com o meu dinheiro, gostaria que ele fosse logo!
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Vozes Globais: Desmatamento e Eleições
Já está no ar minha matéria sobre a relação entre o desmatamento na Amazônia e as eleições de domingo para a Global Voices (vejam do que se trata no post abaixo)
Em breve sairá a tradução para o portugês no link luso do projeto:
http://pt.globalvoicesonline.org/ aonda há outras mil notícias legais!
O que pensam os blogueiros de Bangladesh?
.....Você já parou para pensar nisso? Gostaria de saber o que preocupa os jovens Angolanos? Zambianos? Coreanos do Norte? Claro que a internet é o meio mais fácil de se fazer isso, mas por onde começar? Como superar as barreiras linguísticas?
.....O projeto GLOBAL VOICES ou VOZES GLOBAIS http://globalvoicesonline.org/ foi criado para fazer ponte entre culturas no âmbito da blogsfera. A idéia central é que o site sirva de guia para blogueiros que queiram se aventurar pelos blogues de outra nações.
.....Em cada país há uma rede de colaboradores voluntários que escrevem artigos (em inglês) sobre o que anda rolando na blogsfera do seu país e daí os artigos são traduzidos para as mais diversas línguas. A versão para os países de língua portuguesa é: http://pt.globalvoicesonline.org/
.....O blog Ressurgência Icamiaba foi recentemente citado numa matéria sobre o Blog de Saramago http://pt.globalvoicesonline.org/2008/09/26/lusosfera-saramago-85-anos-vencedor-do-nobel-blogueiro/ e Icamiaba virou colaboradora para o projeto no Brasil. Em breve, será publicado um artigo cujo tema é a relação entre o desmatamento e as eleições no Brasil!
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Adiei o quanto pude...
...mas o sentimento de dever cívico não me permitiu desencanar totalmente das eleições e resolvi dedicar o domingo a noite ao debate dos candidatos a prefeito de São Paulo.
.....Não sei se é porque este ano eu ando mais focada na forma do que no conteúdo, mas o que mais chamou a atenção foi como que: quanto melhor nas pesquisas estava um candidato, pior eram seus argumentos! E vice e versa!!! Os candidatos desconhecidos, que não têm nem 1% das intenções de votos, apresentavam idéias e planos de governo de bom senso, enquanto os líderes de pesquisa brigavam sobre o tamanho das piscinas dos CEUs em cada gestão (se a água era aquecida ou não!) ou se internet gratuita para São Paulo inteira (wi-fi) custaria 43 milhões de reais ou 2 bilhões de reais!
.....Conclusão que tirei: só ganha eleição quem já passou da época de pensar que política tem a ver com planejamento, ideais políticos ou conhecimento dos problemas da cidade. Na era do marketing político, ganha quem consegue levantar uma bandeira bem colorida e gerar uma boa polêmica!
sábado, 27 de setembro de 2008
Ressaca de Oficina
Ontem fui à estréia de Os Bandidos no Teatro Oficina e hoje acordo com meus sensos (& meus sentidos) todos difusos! Acho que o que há de tão especial no Oficina é esse nível no qual a peça te toca. Aliás, peça? Que peça era mesmo? Schiller, né? É que não é só a peça. Na experiência Oficina, que começa no burburinho da entrada, varre o eixo central do teatro, o bandeijão do intervalo, os rostos de tantos que conhecemos e nem tanto e também nossos poros mais íntimos...parece que a peça torna-se quase acessório...e eu adoro essa pan-fodeção dos sentidos que é o teatro Oficina. Chegamos às oito, Bruna e eu, e a peça acabou lá pelas três e meia da manhã, sendo que durante essas mais de sete horas fomos expostas a tudo o que se pode imaginar em termos de imagens, sons e idéias no imenso sonho de uma noite de verão no qual o Zé Celso transforma todas as peças. Tudo em casa, tudo familiarmente assustador. A força magéstica do ator. Foi só lá pela meia noite que começei a sentir o meu raciocínio ceder...em parte pelo cansaço. Daí deitei-me no banco duro envolta no cachecol e então as cenas começaram a chegar para mim indefesa, em outro plano. Havia me rendido. Era este seu objetivo. Daí em diante, ora eu quase cochilava na comodidade do hábito às imagens, mas logo me sacudia e então dançava e logo pulava e me encantava com as cenas magníficas com a qual ele brilhantemente pontua a experiência (o resto todo é só para te preparar para elas: folhagem para as rosas) e que ficam, num lugar sublime da mente, do coração e do tesão. Ai...que vontade de voltar lá de novo hoje e amanhã e depois; ou então nunca mais! Coisa de paixão.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Post de um Anônimo
Às vezes pessoas anônimas deixam os posts mais lindos aqui no blog...não se identificam jamais, como um Papai Noel que presentea e sobe ao céu do seu mistério. Ontem, recebi um destes no post do lançamento de Dentro de Nós, que eu creio ter passado por uma tradução no google translator, pois veio num português truncado. Editei o texto e aqui compartilho:
.
....Suas histórias realizam-se como nós que devemos viver a partir do momento em que nascemos.
....Não tenha medo! Às vezes uma menina corre para seu pai. Às vezes um pai implora a remissão de uma filha adulta. Às vezes os homens são homens e as mulheres são mulheres. Às vezes um homem liberta-se e transforma-se numa mulher e às vezes uma mulher liberta-se e transforma-se num homem. O ser humano é um mar das emoções e não uma via de mão única.
.....Alguns açoites são feitos do fogo e alguns açoites são feitos do couro e alguns açoites são feitos dos beijos de uma mulher nos braços de um homem. E alguns beijos são feitos de um chicote. E alguns beijos são feitos do fogo. Mas em todas estas situações, embora possam ser assombrosas, há a oportunidade incessante para que cada homem transforme-se em homem outra vez e para que cada mulher transforme-se em mulher outra vez. O amor vive no ar como uma força invisível e a todo instante ele pode transformar-se num anjo de luz, assim como a todo instante ele pode transformar-se num anjo do fogo. Isso que é essencial está não somente dentro de nós. Isso que é essencial realiza-se não somente dentro de um dado momento. Está nas identidades novas que são criadas por nós nesses momentos particulares. De modo que nós possamos nos conhecer de novo ou encontrar quem somos pela primeira vez em nossas vidas. E nós somos novos.
.....Alguns açoites são feitos do fogo e alguns açoites são feitos do couro e alguns açoites são feitos dos beijos de uma mulher nos braços de um homem. E alguns beijos são feitos de um chicote. E alguns beijos são feitos do fogo. Mas em todas estas situações, embora possam ser assombrosas, há a oportunidade incessante para que cada homem transforme-se em homem outra vez e para que cada mulher transforme-se em mulher outra vez. O amor vive no ar como uma força invisível e a todo instante ele pode transformar-se num anjo de luz, assim como a todo instante ele pode transformar-se num anjo do fogo. Isso que é essencial está não somente dentro de nós. Isso que é essencial realiza-se não somente dentro de um dado momento. Está nas identidades novas que são criadas por nós nesses momentos particulares. De modo que nós possamos nos conhecer de novo ou encontrar quem somos pela primeira vez em nossas vidas. E nós somos novos.
.....Hoje, um aspeto da revolução pessoal é permitir que a mulher tenha tanta liberdade quanto deseje ou pouca liberdade, como desejar. É uma questão de escolha. É então sua responsabilidade fazer uma escolha honrada. A liberdade é o direito de decidir onde a essência da verdade se realiza em cada momento particular. Você pode encontrar a oportunidade para a felicidade em meio a todo este caos, se você procurar por isso. Não se preocupe com o saldo de erros. Como leitores e escritores, nós cursamos esta trajetória juntos e abrir portas e fazer visitas são coisas que fazemos somente quando sabemos estar sendo guiados pela intuição.
.....Às vezes há somente dois povos: o leitor e o escritor. E às vezes há três povos: o leitor, o escritor e o espírito criativo. Às vezes dois povos estão distantes do sol e o que os une é a forma que suas sombras combinadas adquirem no vácuo. Desta maneira há o pai, o filho e o Espírito Santo. Desta maneira, um triângulo é às vezes a perfeição. E não se preocupe sobre a forma de um triângulo! Você encontrará em sua própria vida o triângulo que você precisa! Às vezes haverá um divórcio. Às vezes haverá uma união. Às vezes três amigos estarão juntos até tarde da noite e nem notarão que o tempo passou. Às vezes, dois falarão e um ficará silencioso. Às vezes dois jogarão e um será o espectador. Nada disso importa se todos são livres.
.....Há duas barreiras que se chamam: "medo" e "desconfiança". Você pode escalar qualquer barreira. Precisa contar com duas virtudes: “força de vontade” e “coragem.”
.....Boa sorte – com seu livro e com seu vôo!
.....Às vezes há somente dois povos: o leitor e o escritor. E às vezes há três povos: o leitor, o escritor e o espírito criativo. Às vezes dois povos estão distantes do sol e o que os une é a forma que suas sombras combinadas adquirem no vácuo. Desta maneira há o pai, o filho e o Espírito Santo. Desta maneira, um triângulo é às vezes a perfeição. E não se preocupe sobre a forma de um triângulo! Você encontrará em sua própria vida o triângulo que você precisa! Às vezes haverá um divórcio. Às vezes haverá uma união. Às vezes três amigos estarão juntos até tarde da noite e nem notarão que o tempo passou. Às vezes, dois falarão e um ficará silencioso. Às vezes dois jogarão e um será o espectador. Nada disso importa se todos são livres.
.....Há duas barreiras que se chamam: "medo" e "desconfiança". Você pode escalar qualquer barreira. Precisa contar com duas virtudes: “força de vontade” e “coragem.”
.....Boa sorte – com seu livro e com seu vôo!
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Blog do Saramago
Eu já gostava de seus livros e ele virou ídolo quando tornou-se o único escritor de porte a exigir das editoras que seus livros fossem publicados em papel reciclado.
Quando a gente está na net e quer ler algo legal, fica procurando e não acha, vale a pena passar por lá: http://caderno.josesaramago.org/ - tem sempre algo interessante sendo dito de maneira singela e poderosa.
domingo, 21 de setembro de 2008
E-Lançamento: Livro de Contos
Eis aqui o dito assombroso livro de contos, Dentro de Nós, com seus oito contos sobre encontros entre pessoas que surpreendem e se surpreendem com aquilo que encontram dentro de si (que também é nós) em situações limite.
Sobre revoluções...
Estou lendo A Revolução Burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes, em preparação ao meu primeiro romance, que planejo começar a escrever ainda em 2008.
Há um trecho que diz, "nenhuma revolução sepulta todo o passado de um povo." Pode nem ser algo novo o que Florestan encapsulou nesta frase, pois todos sabemos que nem a Revolução Russa conseguiu, por exemplo, sepultar o êxtase religioso do povo russo, ao contrário o fanatismo religioso anda em ascenção por lá. Tantos filmes maravilhosos há sobre este tema no âmbito da Revolucão Cultural da China. Florestan falava especificamente das limitações da revolução causada pela Independência do Brasil, frente à dinâmica social enraizada na nossa sociedade, particularmente a escravidão, mesmo após a declaração e ainda no Século XX...
Mas, quando li esta frase, o que me tocou foi pensá-la no âmbito das revoluções pessoais. Sou daquelas que acredita em mudanças e penso já tê-las vivido de forma significativa. Falo de mudanças em relação ao que sinto sobre pessoas, lugares e idéias. No entanto, é profundo pensar em como é determinante o nosso passado...
É um pouco assim como pintar a parede de verde, mas não conseguir esquecer que foi ela a testemunha de suas brigas de casal. Ou forrar o sofá de amarelo, sabendo que foi ele mesmo que acolchoou a traição. Ou jogar fora o vestido que te deu azar naquela audição, sabendo que o corpo, mesmo envolto em outro pano, há de permanecer. Radicalizando, muda-se então de casa e guarda-roupas completo! De cidade e de país!!! Mas, há de haver sempre aquilo que está dentro de nós e não se transforma plenamente. "Nenhuma revolução sepulta todo o passado de um indivíduo."
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
Preta Pretinha - ONG
Hoje foi a segunda pré-assembléia de criação da ONG Preta Pretinha, projeto do qual venho participando junto à Joyce, Lucia e Cris, com o maior orgulho, faz quase um ano.
A ONG nasce inspirada pelas lindas bonecas de pano da loja Preta Pretinha, na Vila Madalena, das quais há as pretinhas, mas também as ruivinhas (meu xodó!), albinas, com síndrome de down, os orelhudos, deficientes físicos, cegos, obesos etc.
A missão institucional da ONG é:
"...contribuir para a construção de um mundo aonde a diversidade humana é valorizada por todos e cada ser humano tem suas características diversas valorizadas pela sociedade, resgatando a sua auto-estima, ao invés de tê-las manipuladas por processos de preconceito causadores de exclusão social e do desenvolvimento inequitativo do país. Esta construção representa uma evolução cultural em pról de uma vida digna para todos, com saúde, moradia, trabalho e lazer."
Dia 25/7 haverá mais uma pré-assembleia, quem puder participar, vale a pena!
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
A beleza para os russos
Num post anterior começei a contar dos preparativos de minha viagem para a Rússia e falei do curioso atendente do Consulado Russo e sua reticência em conversar comigo ao telefone, "Nhem, nhem, nhem, dá para ligar outro dia?" Na primeira visita, a reserva continuou; ele mal me olhou e me deu informações sem olhar para mim. Hoje, que é um dia ensolarado e alegre, eu resolvi me vestir bem bonita para ir ao consulado e eis que ele não só me olhou, da cabeça aos pés, mas até sorriu para mim! Consegui processar meu pedido de visto em menos de 2 minutos! Acreditam? Mais uma lição sobre a Russia. Aliás, Dona Olga havia me dito já da exuberância da beleza das mulheres russas. Disse-me assim, "As mulheres brasileiras são bonitas, mas as russas são uma coisa diferente, são deslumbrantes." Já vi que vou ter que colocar mais um rímel na mala se eu quiser passar tranquila pela imigração!
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
1.000 visitas!
Faz dois meses, um amigo me introduziu ao chamado Google Analytics, que é um programa que faz estatísticas de visitação de blogs. Registrei Ressurgência Icamiaba neste sistema e, hoje, compartilho a alegre notícia de ter chegado a 1.000 visitas neste tempo!!!
Surpreende a diversidade das visitas. Pessoas de 29 países e 68 cidades brasileiras visitaram o blog. Dentre os países mais assíduos está a Inglaterra, que por tantos anos foi meu lar, Israel e países tão diversos quanto Portugal, Russia, Taiwan, Croácia, Arabia Saudita e Angola. Imagino que sejam brasileiros saudosos da terrinha! No Brasil, a maior parte dos visitantes é do eixo São Paulo - Rio, mas há visitas de todas as regiões e praticamente todos os Estados, tanto aqueles do coração, como Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pará, quanto Estados que eu ainda não tive a oportunidade de conhecer como Rondonia e Goiás!
Gente, voltem sempre e apresentem-se! Deixem posts ou conversemos por e-mail, inclusive abri um novo e-mail para o blog: deborah.icamiaba@gmail.com
Saudações icamiabas!
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Assombrada
Ontem, eu completei a versão preliminar do meu primeiro livro de contos - Dentro de Nós.
Não sei se vou ter coragem de algum dia publicá-lo porque ele é ASSOMBROSO. Digo isso porque eu mesma estou assombrada desde que eu o concebi.
É um livro cuja característica central é o SURPREENDENTE. Aquilo que está dentro de nós ou dentro dos outros (que é também nós) e surpreende em situações limite em que surgem.
Eu havia escrito no prefácio "ora são coisas simples e encantadoras, ora são vícios e viços terríveis, todos mistérios profundos da alma" que é uma maneira comercial e superficial de falar disso. Agora eu cuspo nisso!
Me irrita como as palavras tem o poder de amenizar os sentimentos. Particularmente no papelo, fica tudo tão lisinho, sequinho e bonito, quando tudo é também crespo, molhado e horrendo. Eu me ouço falando com as pessoas sobre fatos ocorridos e vejo-as entretidas com as histórias e nenhuma delas me diz, "Dé, pára! Olha o que você está me dizendo!!!"
Vou parar de falar. Vou começar a andar pela rua com a máscara do Freddie Krueger na cabeça!!! Já contei que uma dia eu vi um homem andando com o cachorro dele à meia noite com uma máscara destas na cabeça? - foi assombroso!!! Ou seja, o cara era super verdadeiro!!! risos!!! Deveria ter ido falar com ele para dar os parabéns, mas naquele dia eu fugi dele com medo, porque é isso o que a gente faz o tempo todo. Fugimos sempre do que nos assombra.
E para onde vão estas sombras?
É isso que vive dentro de nós e, de repente, surpreende.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Sem Pedigree
Os passeios com Siri e Sereia pelas ruas do meu bairro continuam sendo uma grande fonte de inspiração e contato com o que há de mais louco e generoso nos seres humanos.
Hoje, pela manhã, conversava com uma vizinha que tem um pequeno poodle preto chamada Cauã. Ela me disse que pegou-o num pet shop alguns anos atrás, porque ele havia sido o último de uma ninhada que restara ali sem dono. Por cinco meses o cachorrinho aguardava um dono encurralado numa grade na vitrine. A razão: havia nascido com uma pata branca e por isso perdera o pedigree! Ninguém o queria assim. Aparentemente, só os de pêlo homogeneamente preto eram merecedores de tal certificado. Fiquei pensando no como os idealizadores do sistema de pedigree de cães chegaram à esta conclusão absurda. O pequeno Cauã, dócil como ele só, restara ali ostracisado pela sua pata branca. A vizinha, comovida com a situação, adotou-o. Quando chegou em casa, os filhos torceram o nariz para ele porque "poodles são cachorros de madame" e eles preferiam um vira-lata! Vai entender!!!
sábado, 6 de setembro de 2008
Nem Mesmo as Chuvas
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
.
teu mais ligeiro olhar facilmente me decerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
.
ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
.
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
.
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.
.
Postado por Mamoco Meremaes.
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
.
teu mais ligeiro olhar facilmente me decerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
.
ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
.
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
.
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.
.
Postado por Mamoco Meremaes.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Poemas
.
Fazemos com as palavras como
as gatas fazem com as penugens.
Lambemos as rimas e as estrofes
até elas ficarem limpas e lustrosas.
.
...................................(para ser lido com sotaque carioca)
as gatas fazem com as penugens.
Lambemos as rimas e as estrofes
até elas ficarem limpas e lustrosas.
.
...................................(para ser lido com sotaque carioca)
terça-feira, 2 de setembro de 2008
CONTO NOVO: Lucia e Jeremias
Hoje você têm uma escolha! Clicar ao lado no link do Domínio Público e ler um daqueles contos de Machado de Assis que você sempre quis ter tempo para ler OU deixar um post para ler o meu novo conto: Lucia e Jeremias! É da série de encontros entre pessoas em lugares bizarros, assimo como Zac e Juliette da semana passada. Abaixo um teaser:
.
".....Era quase noite na cozinha cercada de telas verde musgo. A louça do jantar já secava de cabeça para baixo sobre a pia de inox e Dona Lourdes já havia se recolhido. O canto das cigarras e de nada mais anunciavam que a noite seria precoce em encaminhar os hóspedes do alojamento sede da Vila Operária Florestal para o sono.
......Lucia olhava para a rua de terra batida margeada por densas mangueiras. Estava viva ainda. Curiosa para saber o que acontecia de noite na Vila. Trabalhara o dia todo e, como toda moça jovem, queria sair e conversar, mas sozinha talvez não fosse seguro. Tinha vergonha de convidar o gerente da empresa e, no mais, qual seria a graça de sair com ele com quem passara o dia falando de trabalho. Cogitava arriscar um vôo solo, quando apareceu na cozinha o despojado piloto do avião, Jeremias."
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Ver-o-rio
Será que os ateus surpreendem-se na porta do céu?
A verdade é que perdi a fé, mas continuo agnóstica.
Enquanto houver o riso, será que a travessia se faz?
Nunca um gesto de carinho
Será que quando caminharmos pela orla haverá sonho?
Nunca a generosidade com as palavras
Será que a maresia há de neutralizar a poluição da alma?
Nunca um ir além de si para fazer o outro sorrir
Será que a correnteza forte dissipa esse meu olhar triste?
Até hoje, só este brilho incessante...
Melhor aqui
no conforto
da paz reclusa.
Não é pouco
para quem já teve como perspectiva única
o desânimo.
A ladeira mais íngreme do mundo pela frente.
E que vontade de nos dar uma trégua,
dormir abraçados e não dizer nada.
.
Porque quando soa sua voz tudo ainda se alegra?
Melhor aqui
no conforto
da paz reclusa.
Será fuga de um amor maduro
sabido do que é e não é e perplexo como a força de ainda ser?
Ou o renascer da crença
de que assim, amanhã,
surgirá um amor bom?
A verdade é que perdi a fé, mas continuo agnóstica.
Enquanto houver o riso, será que a travessia se faz?
Nunca um gesto de carinho
Será que quando caminharmos pela orla haverá sonho?
Nunca a generosidade com as palavras
Será que a maresia há de neutralizar a poluição da alma?
Nunca um ir além de si para fazer o outro sorrir
Será que a correnteza forte dissipa esse meu olhar triste?
Até hoje, só este brilho incessante...
Melhor aqui
no conforto
da paz reclusa.
Não é pouco
para quem já teve como perspectiva única
o desânimo.
A ladeira mais íngreme do mundo pela frente.
E que vontade de nos dar uma trégua,
dormir abraçados e não dizer nada.
.
Porque quando soa sua voz tudo ainda se alegra?
Melhor aqui
no conforto
da paz reclusa.
Será fuga de um amor maduro
sabido do que é e não é e perplexo como a força de ainda ser?
Ou o renascer da crença
de que assim, amanhã,
surgirá um amor bom?
domingo, 31 de agosto de 2008
Revisitas
É curioso como a gente re- visita temas antigos o tempo inteiro, sem perceber a circularidade se instala. Vejam que este desenho encontrado no meu livro de rascunhos da adolescência (16 anos) que traz uma mulher com os cabelos cor de rosa, assim como hoje o meu cabelo tem mechas em tom de lilás.
Hoje é um sedoso grito pela diversidade - quem disse que cabelos têm que ser pretos, loiros ou castanhos? Porque não rosa, laranja ou verde? Quem ditou a regra?
Aos 16 anos, que liberdade era esta já presente? Que coragem desenhar esta mulher ousada e fragmentada que eu não era então.
sábado, 30 de agosto de 2008
Amar é um sufoco!
E para não dizerem que eu só escrevo sobre os "outros", aqui vai algo do que sinto:
A literatura salva,
mas o amor faz falta.
.
E a coisa mais engraçada do dia foi ouvir a história de uma amiga que desenvolveu asma aos quarenta anos, após uma década de metódica devoção à solteiriçe ter sido derrubada por um amor intenso e paciente. Lá vinha ela caminhando de volta do hospital, após uma internação relâmpago para corrigir a recém-adquirida dificuldade de respirar, quando virou a esquina de casa e viu o namorado com um ramo de flores na porta esperando por ela. Tem um ataque fulminante e ele tem que levá-la no colo de volta para a emergência! Que sufoco!
A vida nos Jardins é chata?
....Ontem participei da gravação do programa Letra Livre da TV Cultura, do qual participou o escritor Ferréz, mais eminente escritor do movimento auto denominado de Literatura Marginal, surgido no final da década de 90.
....Muitas são as polêmicas que esta categoria literária causa no mundo literário paulistano. Recentemente, na FLAP (Festival de Literatura), discutiu-se O que é literatura marginal e foi esquentada a discussão entre os que defendem que literatura marginal é escrita por aqueles que moram na periferia das grandes metrópoles (critério territorial), os que defendem um recorte temático (critério de: aqueles escrevem sobre a periferia) ou ainda os que buscam expandir o conceito de território periférico para todos os escritores do “terceiro mundo”.
....Ferréz é um cara calmo e confiante, de uma elasticidade lingüística que o faz ser cortante sem jamais elevar o tom de voz ou parecer defensivo. Só esta qualidade já lhe confere grande originalidade.
....Durante o programa, uma senhora participante da Oficina Literária do Clube Paulistano levantou a seguinte questão: “Vocês são um grupo reconhecido de escritores, publicados e quase-celebridades, porque consideram-se marginais? O que me parece hoje marginal na literatura é aquela que fala da vida da elite brasileira. Aonde já se viu um escritor da Oscar Freire adquirir projeção?” A resposta de Ferréz foi cortante, “Eu não tenho culpa que a vida de vocês é tão chata que até os seus escritores vem escrever sobre a vida na periferia.”
....Vida chata. Interessante conceito. Chato é o que é sem relevo, achatado, sem altos e baixo, plano. Será que a vida da elite brasileira é chata? Ferréz desqualificou ao focar a elite dedicada aos cachorrinhos de estimação, com obsessão por viajar para Paris e comprar colares de ouro. Verdade que isso é chato. No entanto, em que pese que talvez a Oscar Freire seja realmente o reduto das madames desocupadas da elite paulistana, é certo que seus maridos (assim como as mulheres profissionais da elite) são os dirigentes do país e isso, certamente, não é algo chato.
....Ter a tarefa diária de determinar o destino de milhares de pessoas não é uma coisa chata. Os políticos, por exemplo, num dia comum, despacham a vida de algumas centenas de pessoas. Em decidir destinar alguns milhões de reais para recapeamento de estradas ou para a contratação de mais médicos para o SUS, determina-se algumas centenas de destinos - os que morrerão em acidentes de estrada e os que morreram na fila dos hospitais. Os empresários, num dia comum, despacham a vida da classe trabalhadora - contratar mais duzentos funcionários ou comprar uma máquina que mecaniza uma parte do sistema produtivo? Definem também o preço do feijão e do arroz quando resolvem importar grãos da Argentina ou estocá-los até que o preço suba mais, determinando assim o cardápio e a saúde do povo. Até mesmo o meio ambiente está em suas mãos, quando decidem investir na geração de energia renovável ou montar uma usina de carvão que emitirá gases de efeito estufa. Os advogados, num dia comum inserem cláusulas nos contratos que determinam se os planos de saúde cobrirão casos de HIV adquiridos pelo consumo de drogas ou tratamento psiquiátrico. A cada canetada, vidas e vidas periféricas estão em jogo. Não seria isto tema interessante para a literatura brasileira?
....No entanto, há algo que soa verdadeiro nas acusações de Ferréz. De fato, a vida da elite brasileira aparenta ser menos intensa, sexual e musical do que a dos periféricos. Vemos os executivos de terno-azul marinho da Av. Paulista sempre estressado e sem tempo. Os mesmos que contratam prostitutas plastificadas no Café Photo para aliviar a tensão. Vemos o tédio dos restaurantes de luxo, contrastados à alegria do samba nos botecos. Será que algo mais ocorre na esfera privada, dentro dos muros dos palacetes e das empresas? Nas ruas, ao menos, o que se vê é uma vida de pouco apelo estético, apesar do esforço das grandes marcas para rejuvenecer a imagem os produtos de marcas como Louis Vitton, Tiffany e Burberry’s que, verdade seja dita, são absolutamente tradicionais e acessíveis somente para pessoas bem diferentes da imagem das modelos que estampam seus anúncios coloridos.
....O que é certo que a arte jovem brasileira (para não dizer de “vanguarda”) se abstêm de representar a sua elite. Enquanto Sex & The City é um dos seriados de maior sucesso da história da TV americana (e a política e a realidade das grandes empresas recorre como tema no cinema americano), a literatura e o cinema brasileiros, produzidos pela periferia ou pela elite, focam a vida periferia. Teria Machado de Assis esgotado o seu tema? Nada novo desde então? Teriam as novelas globais saturado a representação deste público? Algo a se pensar. Profundamente.
....Muitas são as polêmicas que esta categoria literária causa no mundo literário paulistano. Recentemente, na FLAP (Festival de Literatura), discutiu-se O que é literatura marginal e foi esquentada a discussão entre os que defendem que literatura marginal é escrita por aqueles que moram na periferia das grandes metrópoles (critério territorial), os que defendem um recorte temático (critério de: aqueles escrevem sobre a periferia) ou ainda os que buscam expandir o conceito de território periférico para todos os escritores do “terceiro mundo”.
....Ferréz é um cara calmo e confiante, de uma elasticidade lingüística que o faz ser cortante sem jamais elevar o tom de voz ou parecer defensivo. Só esta qualidade já lhe confere grande originalidade.
....Durante o programa, uma senhora participante da Oficina Literária do Clube Paulistano levantou a seguinte questão: “Vocês são um grupo reconhecido de escritores, publicados e quase-celebridades, porque consideram-se marginais? O que me parece hoje marginal na literatura é aquela que fala da vida da elite brasileira. Aonde já se viu um escritor da Oscar Freire adquirir projeção?” A resposta de Ferréz foi cortante, “Eu não tenho culpa que a vida de vocês é tão chata que até os seus escritores vem escrever sobre a vida na periferia.”
....Vida chata. Interessante conceito. Chato é o que é sem relevo, achatado, sem altos e baixo, plano. Será que a vida da elite brasileira é chata? Ferréz desqualificou ao focar a elite dedicada aos cachorrinhos de estimação, com obsessão por viajar para Paris e comprar colares de ouro. Verdade que isso é chato. No entanto, em que pese que talvez a Oscar Freire seja realmente o reduto das madames desocupadas da elite paulistana, é certo que seus maridos (assim como as mulheres profissionais da elite) são os dirigentes do país e isso, certamente, não é algo chato.
....Ter a tarefa diária de determinar o destino de milhares de pessoas não é uma coisa chata. Os políticos, por exemplo, num dia comum, despacham a vida de algumas centenas de pessoas. Em decidir destinar alguns milhões de reais para recapeamento de estradas ou para a contratação de mais médicos para o SUS, determina-se algumas centenas de destinos - os que morrerão em acidentes de estrada e os que morreram na fila dos hospitais. Os empresários, num dia comum, despacham a vida da classe trabalhadora - contratar mais duzentos funcionários ou comprar uma máquina que mecaniza uma parte do sistema produtivo? Definem também o preço do feijão e do arroz quando resolvem importar grãos da Argentina ou estocá-los até que o preço suba mais, determinando assim o cardápio e a saúde do povo. Até mesmo o meio ambiente está em suas mãos, quando decidem investir na geração de energia renovável ou montar uma usina de carvão que emitirá gases de efeito estufa. Os advogados, num dia comum inserem cláusulas nos contratos que determinam se os planos de saúde cobrirão casos de HIV adquiridos pelo consumo de drogas ou tratamento psiquiátrico. A cada canetada, vidas e vidas periféricas estão em jogo. Não seria isto tema interessante para a literatura brasileira?
....No entanto, há algo que soa verdadeiro nas acusações de Ferréz. De fato, a vida da elite brasileira aparenta ser menos intensa, sexual e musical do que a dos periféricos. Vemos os executivos de terno-azul marinho da Av. Paulista sempre estressado e sem tempo. Os mesmos que contratam prostitutas plastificadas no Café Photo para aliviar a tensão. Vemos o tédio dos restaurantes de luxo, contrastados à alegria do samba nos botecos. Será que algo mais ocorre na esfera privada, dentro dos muros dos palacetes e das empresas? Nas ruas, ao menos, o que se vê é uma vida de pouco apelo estético, apesar do esforço das grandes marcas para rejuvenecer a imagem os produtos de marcas como Louis Vitton, Tiffany e Burberry’s que, verdade seja dita, são absolutamente tradicionais e acessíveis somente para pessoas bem diferentes da imagem das modelos que estampam seus anúncios coloridos.
....O que é certo que a arte jovem brasileira (para não dizer de “vanguarda”) se abstêm de representar a sua elite. Enquanto Sex & The City é um dos seriados de maior sucesso da história da TV americana (e a política e a realidade das grandes empresas recorre como tema no cinema americano), a literatura e o cinema brasileiros, produzidos pela periferia ou pela elite, focam a vida periferia. Teria Machado de Assis esgotado o seu tema? Nada novo desde então? Teriam as novelas globais saturado a representação deste público? Algo a se pensar. Profundamente.
.
O programa Letra Livre vai ao ar em Outubro, vale conferir.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
domingo, 24 de agosto de 2008
Novo Conto: Zac e Juliette
"Estavam ambos nus na cama, pela primeira vez. Até então amigos, levou-os até ali o teatro e a cerveja. Após alguns beijos mais quentes ela lhe disse, “Sexo não, tá?” Ele consentiu. Mas, aquilo tornava a situação inédita. Se não rolasse sexo, ia rolar o quê?
..."
..."
(Para receber o conto inteiro, deixe um post!)
sábado, 23 de agosto de 2008
Nós
Começei a conversar com ele
e quando vi
estávamos nos beijando.
.
Começei a beijar ele
e quando vi
estavamos nos amando.
.
Começei a amar ele
e quando vi
já não éramos mais
eu e ele.
e quando vi
estávamos nos beijando.
.
Começei a beijar ele
e quando vi
estavamos nos amando.
.
Começei a amar ele
e quando vi
já não éramos mais
eu e ele.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Crônica: Civilização Inviável
.....Instigantes são os biólogos, com seu misto de evolucionismo pessimista (diriam eles realista!) e o alto grau de engajamento pela causa ambiental, contradições em termos.
.....Por um lado, eles mantêm uma perspectiva aguda do papel restrito que o homo sapiens tem na Terra. Apesar de sermos uma espécie ousada, crente de que pode domar a natureza em pról dos próprios interesses, os biólogos sabem que houveram milênios antes do nosso surgimento e que haverão outros após nossa provável extinção. Mesmo que isso não aconteça, o fogo do sol deve se exaurir dentro de alguns milhões de anos e então será tudo extinto! Ou seja, o fim de nossa civilização é certo, o que varia é só o quando isso acontece, antes ou junto com o fim do mundo, e o como acontece!
.....Ao mesmo tempo, os biólogos são aqueles que não jogam lixo no chão (aliás, nem devemos falar de “lixo”, pois trata-se de resíduos sólidos, matéria-prima da reciclagem), são os que catam copinhos de plástico nas praias, escovam os dentes com a torneira fechada, apagam sempre as luzes, tornam-se vegetarianos (ecologia da boca para dentro!) e têm como peça chave do seu guarda-roupa as camisetas de campanhas ambientais, ora em defesa das baleias ora dos morcegos, preferencialmente feitas de algodão orgânico.
.....Participando do lançamento de uma campanha em defesa dos oceanos, presenciei um curioso momento de exposição desta contradição dos biólogos. Na hora das perguntas, surgiu da platéia um senhor que se apresentou como médico aposentado, filósofo auto didata e psicólogo. O fez com muito humor! Disse ele, “Eu sou uma pessoa informada, leio diariamente os jornais e pelo que pude entender o nosso modelo de civilização já se provou inviável. Se fossemos o Titanic, diria que já batemos no iceberg, correto? Então, eu lhes pergunto, se não há salvação para a humanidade, porque não comer atum? Será que não estamos nos comportando como os passageiros do Titanic que reclamaram do balançar dos copos de champagne em meio ao naufrágio?”
.....Seu questionamento chacoalhou a mesa de biólogos! Sorriram entre eles, alguns adquiriram uma fisionomia grave, cediam a vez para o outro ser o primeiro a falar. Por fim, um a um, posicionaram-se. Todos concordam que as perspectivas não são boas para a civilização humana. As estatísticas são péssimas e a visão que se forma hoje é que a combinação do padrão de consumo adotado após a revolução industrial e a democracia, que permite a livre escolha aos cidadãos, é inviável e levará nossa civilização ao colapso. “Agora...”, e todos os biólogos da mesa deram o seu “agora”, “...se fosse para acreditar em alguma coisa...” e todos disseram preferir continuar agindo como se ainda houvesse tempo, como se ainda fosse possível evitar o choque com o iceberg. Curiosa tribo.
.....A lógica natural da coisa seria dizer: se não há solução, se tudo está mesmo perdido, então vamos comer churrasco de boi da Amazônia até o último dos dias! Vamos comprar madeira ilegal, porque ela é mais barata! Vamos jogar o lixo na praia, porque a lixeira está longe e eu estou é com preguiça! Vamos comer o camarão da carcinicultura dos mangues nordestinos, porque ele é maior e nada melhor do que um camarão gigante na moranga! Enfim, se tudo está perdido, vamos curtir o que nos resta!!!
.....Mas os biólogos não pensam assim. Com eles ocorre o inverso. Confrontados com a ausência de perspectivas salvacionistas, ocorre o acirramento dos padrões e o apego militante às práticas ideais de comportamento, irrespectivo de sua irrelevância para a mudança do curso da evolução. São movidos por um tipo de crença dos descrentes, como se fossem crentes de uma bíblia ateísta. São a antítese do padre jesuíta retratado no maravilhoso filme “As Missões”, aquele que morre assassinado pela coroa portuguesa junto com os índios de sua catequese, rezando com a cruz em punho. Morre em meio à barbárie, mas firme na fé de haver uma "lógica maior” que só Deus pode compreender e da qual ele é só um pequeno instrumento. Os biólogos são o inverso do padre, pois se vêem capazes de compreender, o que vêem não os traz fé, mas optam por persistir carregando a cruz. Porque isso?
.....A explicação que eu encontrei foi poética. Isso mesmo! Os biólogos da modernidade têm alma de poeta. Em meio à descrença generalizada, eles passam a se relacionar com gestos rituais, simbólicos, porém inconseqüentes, que tem mais a ver com o que a vida poderia ter sido do que como que ela realmente é. Ou seja, relacionam-se com o gesto ambientalista pela própria beleza do gesto, assim como a poesia, que nasce do encantamento com a beleza da palavra. Assim, mesmo não fazendo diferença para a evolução, catar um copinho de plástico na praia é um gesto ritual repleto de beleza utópica e inspiradora para os biólogos. Na prática deste gesto se conhecem e se reconhecem e assim seguem, uma tribo entre tantas outras, todos fadados à extinção.
.....Por um lado, eles mantêm uma perspectiva aguda do papel restrito que o homo sapiens tem na Terra. Apesar de sermos uma espécie ousada, crente de que pode domar a natureza em pról dos próprios interesses, os biólogos sabem que houveram milênios antes do nosso surgimento e que haverão outros após nossa provável extinção. Mesmo que isso não aconteça, o fogo do sol deve se exaurir dentro de alguns milhões de anos e então será tudo extinto! Ou seja, o fim de nossa civilização é certo, o que varia é só o quando isso acontece, antes ou junto com o fim do mundo, e o como acontece!
.....Ao mesmo tempo, os biólogos são aqueles que não jogam lixo no chão (aliás, nem devemos falar de “lixo”, pois trata-se de resíduos sólidos, matéria-prima da reciclagem), são os que catam copinhos de plástico nas praias, escovam os dentes com a torneira fechada, apagam sempre as luzes, tornam-se vegetarianos (ecologia da boca para dentro!) e têm como peça chave do seu guarda-roupa as camisetas de campanhas ambientais, ora em defesa das baleias ora dos morcegos, preferencialmente feitas de algodão orgânico.
.....Participando do lançamento de uma campanha em defesa dos oceanos, presenciei um curioso momento de exposição desta contradição dos biólogos. Na hora das perguntas, surgiu da platéia um senhor que se apresentou como médico aposentado, filósofo auto didata e psicólogo. O fez com muito humor! Disse ele, “Eu sou uma pessoa informada, leio diariamente os jornais e pelo que pude entender o nosso modelo de civilização já se provou inviável. Se fossemos o Titanic, diria que já batemos no iceberg, correto? Então, eu lhes pergunto, se não há salvação para a humanidade, porque não comer atum? Será que não estamos nos comportando como os passageiros do Titanic que reclamaram do balançar dos copos de champagne em meio ao naufrágio?”
.....Seu questionamento chacoalhou a mesa de biólogos! Sorriram entre eles, alguns adquiriram uma fisionomia grave, cediam a vez para o outro ser o primeiro a falar. Por fim, um a um, posicionaram-se. Todos concordam que as perspectivas não são boas para a civilização humana. As estatísticas são péssimas e a visão que se forma hoje é que a combinação do padrão de consumo adotado após a revolução industrial e a democracia, que permite a livre escolha aos cidadãos, é inviável e levará nossa civilização ao colapso. “Agora...”, e todos os biólogos da mesa deram o seu “agora”, “...se fosse para acreditar em alguma coisa...” e todos disseram preferir continuar agindo como se ainda houvesse tempo, como se ainda fosse possível evitar o choque com o iceberg. Curiosa tribo.
.....A lógica natural da coisa seria dizer: se não há solução, se tudo está mesmo perdido, então vamos comer churrasco de boi da Amazônia até o último dos dias! Vamos comprar madeira ilegal, porque ela é mais barata! Vamos jogar o lixo na praia, porque a lixeira está longe e eu estou é com preguiça! Vamos comer o camarão da carcinicultura dos mangues nordestinos, porque ele é maior e nada melhor do que um camarão gigante na moranga! Enfim, se tudo está perdido, vamos curtir o que nos resta!!!
.....Mas os biólogos não pensam assim. Com eles ocorre o inverso. Confrontados com a ausência de perspectivas salvacionistas, ocorre o acirramento dos padrões e o apego militante às práticas ideais de comportamento, irrespectivo de sua irrelevância para a mudança do curso da evolução. São movidos por um tipo de crença dos descrentes, como se fossem crentes de uma bíblia ateísta. São a antítese do padre jesuíta retratado no maravilhoso filme “As Missões”, aquele que morre assassinado pela coroa portuguesa junto com os índios de sua catequese, rezando com a cruz em punho. Morre em meio à barbárie, mas firme na fé de haver uma "lógica maior” que só Deus pode compreender e da qual ele é só um pequeno instrumento. Os biólogos são o inverso do padre, pois se vêem capazes de compreender, o que vêem não os traz fé, mas optam por persistir carregando a cruz. Porque isso?
.....A explicação que eu encontrei foi poética. Isso mesmo! Os biólogos da modernidade têm alma de poeta. Em meio à descrença generalizada, eles passam a se relacionar com gestos rituais, simbólicos, porém inconseqüentes, que tem mais a ver com o que a vida poderia ter sido do que como que ela realmente é. Ou seja, relacionam-se com o gesto ambientalista pela própria beleza do gesto, assim como a poesia, que nasce do encantamento com a beleza da palavra. Assim, mesmo não fazendo diferença para a evolução, catar um copinho de plástico na praia é um gesto ritual repleto de beleza utópica e inspiradora para os biólogos. Na prática deste gesto se conhecem e se reconhecem e assim seguem, uma tribo entre tantas outras, todos fadados à extinção.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Amor Vegetal
Recentemente descobri um poeta brasileiro muito famoso chamado Affonso Romano de Sant'anna. Assisti-o na TV Cultura falando sobre como a poesia brasileira tendeu tão fortemente ao concretismo, rejeitando correntes mais discursivas e menos formalistas. Desde o início de sua carreira como poeta quis propor que poesia não é uma coisa OU outra, mas uma coisa E outra. Disso já gostei, pois creio que a maior parte dos problemas do mundo provém do esquecimento de que o E é possível: muçulmanos e chineses, judeus e árabes, ocidentais e orientais, porque não? Outra coisa legal, foi um poema dele que inspirou a música da Legião Urbana, "Que país é este?" Comprei um livrinho de Affonso Romano na Bienal e adorei sua poesia! Compartilho um poeminha chamado: Amor Vegetal.
.Não creio que as árvores
fiquem em pé, em solidão, durante a noite.
Elas se amam. E entre as ramagens e raízes
se entreabrem em copas
em carícias extensivas.
.
Quando amanhece,
não é o cantar de pássaros que pousa em meus ouvidos,
mas o que restou na aurora
de seus agrestes gemidos.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Os Possessos
Eu e Nanci fomos ontem à FUNARTE, na belíssima Barra Funda renascente, com sua arquitetura dos anos 50 timidamente ressurgindo nas cores restauradas, assistir aos "idiotas" André e Solange na produção de Os Possessos, de Dostoiévski.
É imperdível para todos os que fizeram a oficina de O Idiota, pois fica nítida a dificuldade de transposição do texto intricado de Fydor para o palco. A produção é criativa e tem cenas maravilhosas, algumas protagonizadas por nossos queridos "idiotas", como por exemplo a dos personagens com "sombras" que imitam seus gestos.
No entanto, é presente a dificuldade do enredo central se destacar em meio a tantos sub-enredos e a dificuldade dos atores expressarem a característica dúbia e oscilante dos personagens centrais, o que vimos ser característica importante em Dostoiévski. Em algumas partes, fiquei com saudades do texto, curiosa para ler como Dostoiévski retratou este ou outro momento!
domingo, 17 de agosto de 2008
Love and Blembers
Muito legal esta peça/show sobre o amor nos tempos modernos que fui assistir ontem com Dani, querida dramaturga e fellow "idiota". Várias reflexões!
Teatro físico, com texto de apoio, algumas imagens ficarão comigo por um bom tempo, como a "cena do abraço gostoso" entre um casal na praia, tão gostoso, tão gostoso, mas daí, para onde ir? E o tempo, que vai passando e tornando incomodo aquele estar gostoso só por estar gostoso até que se desfaz o gostoso e tudo se torna incomodo e cada um fica sem saber como sair dali seu causar comoção.
Menção especial à brilhante atriz/dançarina que é a protagonista, esta de vestido vermelho ao lado - grande doação, grande atuação!
sábado, 16 de agosto de 2008
Em perigo:
Aí o tubarão e a tartaruga, duas espécies vítimas da pesca incidental (em redes de arrasto e outras), representados por voluntários do Greenpeace, no lançamento da Campanha de Oceanos que aconteceu hoje de manhã no Parque Villa Lobos. http://www.greenpeace.org/brasil/oceanos/
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Rumo à Russia!
Toda viagem começa bem antes do caminho até o aeroporto. Minha viagem à Rússia já está começando!
Por indicação de uma amiga do meu pai, viúva de um brasileiro-russo chamado Yura, com quem convivi alegremente durante a infância nas festas de família, conversei hoje com Dona Olga. Só sabia que Dona Olga tinha uma relação forte com a Rússia e poderia me colocar em contato com um casal de russos-brasileiros que vive em São Petersburgo. Duas horas depois, ainda não havíamos chegado ao tema de obter o e-mail deles! Os russos são altamente discursivos e cada “causo” é uma narrativa completa e densa, assim como os textos de Dostoievski.
Por indicação de uma amiga do meu pai, viúva de um brasileiro-russo chamado Yura, com quem convivi alegremente durante a infância nas festas de família, conversei hoje com Dona Olga. Só sabia que Dona Olga tinha uma relação forte com a Rússia e poderia me colocar em contato com um casal de russos-brasileiros que vive em São Petersburgo. Duas horas depois, ainda não havíamos chegado ao tema de obter o e-mail deles! Os russos são altamente discursivos e cada “causo” é uma narrativa completa e densa, assim como os textos de Dostoievski.
Dona Olga teve uma vida que é até difícil visualizar para alguém da nossa geração. Octogenária altiva e falante, inteligente e orgulhosa, contou-me sobre como ela nascera na China! Era uma “chinesa branca”, como diziam os que migraram da Rússia para a China após a Revolução. Quando Mao Tse Tsung chegou ao poder resolveu expulsar da China todos os “de raças européias”. Assim sendo, já órfã de pai e mãe, aos 15 anos, ela e sua tia (mais os japoneses que viviam em sua vila) foram colocadas num trem que em 52 horas as levou até Hong Kong. Lá ficaram à espera de um navio que a levaria para alguma parte do mundo.
Na época falava fluentemente: chinês, russo e inglês, mas nunca ouvira falar de Brasil ou da língua portuguesa. Quando chegou ao porto de Santos, recebeu documentos que a caracterizavam como “apatriada” – disse-me da dor de ser considerada isso: sem pátria. Identificou-se com o cosmopolitanismo brasileiro, aonde as várias etnias convivem amávelmente, diferentemente de sua terra natal. Ficou. Contou-me muitas e muitas histórias de sua vida em São Paulo, aonde trabalhou como operária e tradutora. Também, contou-me sobre o nacionalismo eslavófilo (coisa sobre a qual quero melhor aprender), de como um de seus parentes trabalhou com Pedro o Grande e o outro era engenheiro e poeta, um liberal que acreditava na união dos povos da Rússia e não o separatismo (ecos do que lemos no jornal esses dias, não?) e de como mesmo ela cresceu imbuída pelos pais de um sentimento de patriotismo russo muito grande. Recentemente, participou em Moscou de um Congresso que reuniu russos criados em outras nações e emocionou-se com esta cidade, mas ainda mais com São Petesburgo.
Quantos mistérios!!! Quantos deles poderei ao menos tocar durante a viagem, quanto menos desvendar? E mesmo assim, o viajante é aquele que é imbuído da curiosidade pela alteridade, acredita e segue seu rumo.
Entusiasmada, liguei para o Consultado Russo com a missão de obter um visto. Atendeu um homem russo e eu perguntei, “Queria tirar uma dúvida sobre algo que li no site sobre os vistos.” Ele fez um barulinho curioso, “Nhum-nham-nhum", e depois disse "Dúvidas está tudo no site.” Eu disse, “Sim, eu li o site, mas fiquei com uma dúvida.” “Num-nham-nhum, está tudo tudo no site.” “Sei. Você prefere que eu vá ai pessoalmente?” “Nhum-nham-nhum, pode ligar depois das 13hs?” Irei pessoalmente. Quero ver ao vivo!
Sei que não será fácil, pois esta será uma viagem para o Oriente, para outra dimensão cultural, o que acarreta desentendimentos, mas para mim isso foi sempre aonde a vida real começa, no sair de si mesmo para se deparar com o outro, condição explícita para existirmos, pois só existe assim, em contraposição ao outro, não? Como saber se somos altos se não conhecemos os baixos? E a nossa sociedade, que é tão auto-destrutiva, quer acabar até com a nossa possibilidade de existir no olhar do outro, pois diariamente trabalha-se na eliminação de tudo o que é diferente, de todas as outras formas de viver e pensar, de agir e vestir, de ser.
Quantos mistérios!!! Quantos deles poderei ao menos tocar durante a viagem, quanto menos desvendar? E mesmo assim, o viajante é aquele que é imbuído da curiosidade pela alteridade, acredita e segue seu rumo.
Entusiasmada, liguei para o Consultado Russo com a missão de obter um visto. Atendeu um homem russo e eu perguntei, “Queria tirar uma dúvida sobre algo que li no site sobre os vistos.” Ele fez um barulinho curioso, “Nhum-nham-nhum", e depois disse "Dúvidas está tudo no site.” Eu disse, “Sim, eu li o site, mas fiquei com uma dúvida.” “Num-nham-nhum, está tudo tudo no site.” “Sei. Você prefere que eu vá ai pessoalmente?” “Nhum-nham-nhum, pode ligar depois das 13hs?” Irei pessoalmente. Quero ver ao vivo!
Sei que não será fácil, pois esta será uma viagem para o Oriente, para outra dimensão cultural, o que acarreta desentendimentos, mas para mim isso foi sempre aonde a vida real começa, no sair de si mesmo para se deparar com o outro, condição explícita para existirmos, pois só existe assim, em contraposição ao outro, não? Como saber se somos altos se não conhecemos os baixos? E a nossa sociedade, que é tão auto-destrutiva, quer acabar até com a nossa possibilidade de existir no olhar do outro, pois diariamente trabalha-se na eliminação de tudo o que é diferente, de todas as outras formas de viver e pensar, de agir e vestir, de ser.
Filosofia do Cotidiano
Ontem, após o almoço, à espera do cafézinho, eu folheava o jornal e ria comigo mesma da imagem de um funcionário de circo se agarrando às pernas de uma elefanta sendo apreendida por funcionários do IBAMA e policiais.
"A vida é um circo," espirei pensamento.
Minha mãe, que passava pelo recinto, de sopetão, retrucou:
"E nós somos os palhaços."
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Caiu na rede...
Eram duas da manhã quando eu e Leandra chegamos ao mercado de peixes do CEAGESP. Já na entrada, vimos que todos usavam botas plásticas brancas e nós não! Mas, tudo bem, tomamos um café com leite para aquecer. Aproximou-se um empreendedor japonês, cuja empresa chama-se Golfinho! "Pesca golfinho???" "No, no, no, no. It's just a fantasy name." Prosseguimos para o galpão molhado e repleto de peixes e, sendo as únicas meninas do recinto, fomos muito bem recepcionadas pelos vendedores de peixe, entre um ou outro esbarrão acidental dos carretos. Achei até um namorado, veja como ele é bonito na foto! Algumas horas depois, com os pés molhados e cheirando a peixe, voltamos para o aconchego do lar.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Mercado de Peixes
O tema da semana é: peixes - tantos deles por todas as partes. Eu, que sou do signo de peixes, agora assito-os nos programas da TV, fico atenta ao cardápio na casa da minha mãe, entro em todas as peixarias do bairro e por toda a casa há relatórios sobre peixes.
Quanto é um milhão de toneladas? Conseguem visualizar? É este o tanto de peixes que o Brasil produz a cada ano. Um milhão de toneladas de peixe.
A espécie mais perseguida é a sardinha! Justo elas com quem nadei na Praia do Sancho em Noronha. Nadei por dentro delas, tantas e tantas, dando a sensação de estar dentro de um programa de computador, tamanha a coordenação entre seus corpinhos metálicos.
Meu plano agora é visitar o Mercado de Peixes do CEAGESP, o ponto central de recebimento de peixes de São Paulo! O horário é uma beleza - das 2 às 6hs - da madrugada!!! Alguém se habilita?
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