quinta-feira, 29 de maio de 2008

Em defesa dos antropólogos...

.....É curioso como a maior parte das pessoas vêem a minha formação como uma espécie de doença. Muitas vezes eu ouço, "Você poderia ser menos antropóloga" ou "Não dá para você deixar esse olhar de antropólogo de lado um pouco" ou os mais reticentes, "Você tem um viés de antropóloga bem forte!" Pois é, isso é forte em mim. Hoje que sigo para o Congresso da Associação Brasileira de Antropólogos, resolvi fazer uma homenagem aos antropólogos, compartilhando um trecho do meu diário:
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"Faz alguns dias me emocionei com uma imagem que tive do ‘ser antropóloga’, foi algo vivido no sono ou no recém-despertar, nada intelectualizado, somente um gesto. Um sentar ‘meio assim’, com os braços abraçando os joelhos, encostada numa árvore, ereta e serena...essa é a postura do antropólogo. Ele é aquele que senta, sem pressa, que ouve, que brinca com as crianças (no meu sonho, aparece uma criançada correndo e rindo à toa, e elas vêm em minha direção e meus braços se abrem para um abraço)...é o antropólogo, alegre de estar ali, longe de casa, no meio da vila cheia de árvores, lutou para estar ali, achando tudo bonito e diferente, imbuído de estar ali, sentindo-se bem. Entre tantas posturas e profissões, meu Deus, há alguma mais delicada do que esta?"
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(Aos que não tiveram coragem de perguntar ou tempo de procurar no dicionário, a antropologia é a ciência ou a arte que estuda o Homem, no seu coletivo, ao longo dos tempos, em suas diversas manifestações culturais, em geral focando nas mais tradicionais, tais como as sociedades indígenas. Ela se contrapõe à sociologia, que estuda as sociedades modernas e à psicologia, que estuda o indivíduo e o seu psique, sendo que há ainda a psicologia social, que estuda os fenômenos do psique do indivíduo na massa).

sábado, 24 de maio de 2008

SLOW Food, Alimentação Lenta

Outro dia li um artigo sobre o "SLOW Food", uma nova modalidade de alimentação que tornou-se muito popular no Estados Unidos. Dizia o artigo que os cardápios dos restaurantes deste gênero servem exclusivamente rabanetes, alfaces, grãos de bico, sempre comidas vegetarianas e leves, e que a proposta central é de se comer lentamente, prestando atenção no ato de se alimentar. Independente do baixo valor calórico dos alimentos, o "SLOW Food" faz parecer que se está comendo um banquete.
.....Um belo Sábado resolvi testar a novidade. Voltei da feira carregada de vegetais e hortaliças fescas, tomei um longo banho de banheira, com essência de alecrim e espuma de lavanda, me vesti com um longo vestido de algodão orgânico e fui à cozinha preparar meu banquete. O prato principal: TOMATE. O acompanhamento: RÚCULA desfiada. Isso mesmo, o centro da refeição seria o enorme tomate vermelho que eu comprara na feira. E nada mais!
.....Caminhei com os pés no chão até a geladeira, colhi o tomate do fundo da gaveta da geladeira e lançei-o sob o jato de água fria. O tomate era enorme, maior do que as minhas duas mãos, e eu o acariciei. Olhei suas curvas e pensei: vou te comer! Daí sequei ele com uma toalha e coloquei-o sob a mesa, em cima de uma tábua de madeira. Selecionei uma faca enorme, a mais afiada que tenho em repertório. Tomei o tomate nas mãos e descasquei-o bem devagar, tirando-lhe somente a pele, com todo o cuidado do mundo para não o machucar. Demorei um longo tempo nesta atividade, sentindo gradualmente a textura da carne do tomate se desvelando na minha mão. Foi me dando aquela fome!
.....Daí sim, coloquei-o de volta sobre a tábua e começei a parti-lo em fatias bem finas. Uma a uma. O tomatão rendeu umas vinte fatias gigantes, vermelhas, sementadas, maravilhosas. Cada uma delas eu espalhei num amplo prato de vidro transparente, como se fosse um carpaccio saboroso. Terminado o corte, temperei-o com azeite de oliva portugês, orégano italiano, mostarda de grãos, alcaparras e azeitona gregas grandes e negras. Finalmente, cerquei as rodelas de tomate com a rúcula desfiada, salpicada de vinagre de arroz e pimenta do reino.
.....Cobri a mesa de madeira rústica com uma toalha de renda renascença e decorei-a com um vaso de flores campestres coloridas, acendi até duas velinhas antes de sentar-me à mesa com o carpaccio de tomate. O comi lentamente, cortando cada fatia em diversos pedaçinhos, saborando cada um como se fosse o último pedaço de alimento do mundo! Confesso que foi uma experiência absolutamente do além! Nunca um tomate foi tão deliciosamente saboreado e, sinceramente, a sensação de preencimento que senti foi como se houvesse comido um enorme rodízio de carne! (antes de virar vegetariana, claro!)
.....Deste episódio tirei a conclusão que realmente há algo correto da filosofia do "SLOW Food". Na vida caótica e corrida urbana a gente come demais, rápido demais, comida pesada e temperada demais, porque não conseguimos nos concentrar no importante ato de se alimentar. Não estamos aptos a sentir gostos suaves e as texturas dos alimentos, por isso os restaurantes precisam cada vez mais carregar tudo de sal, pimenta, conservantes e outros atrativos para que a comida GRITE para nosso cérebro que ela está ali.
.....Recordei-me do buffet aonde almoçava diariamente no trabalho, do estilo "tudo por R$19" e pensei na quantidade de comida que eu comia, sem me dar conta, conversando sobre trabalho com um monte de gente estranha, sobre as notícias estressantes de jornal do dia, fofocas malígnas etc. Ao comparar aquela experiência absurdamente exagerada com a experiência áurea do tomate, eu tive até vergonha do meu passado!
.....Sei que não será todos os dias que poderei me encontrar com o meu tomate, como naquele dia, mas pedi a Deus que, ao menos uma vez por mês, eu possa praticar o "SLOW Food" e, a cada dia, comer mais lentamente, menos quantidade, e estar em contato com as coisas que eu insiro dentro do meu organismo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Retratos Urbanos



Agradeço à todos os amigos e familares que vieram à Casa das Rosas esta Sábado para pretigiar o lançamento do livro Retratos Urbanos, antologia que contém minha Crônica do Trânsito. Valeu!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Primavera em Praga

E já que estamos comemorando e refletindo sobre 68´vale visitar o site da revista Italiana Espresso http://temi.repubblica.it/espresso-il68/ e ver fotos maravilhosas da época.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Syria, Palmyra

Como o mundo é vasto!
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Como a história da humanidade é longa e rica!
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Como nos esquecemos disso tão frequentemente!








Acabo de receber lindas fotos do meu querido amigo Giulio, que visitou a Syria, compartilhou sua visão e gerou em mim perspectiva!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

URSO

Tão bonito, o urso. Grande e preto. Nos olhos, a expressão do passado e do presente, mesclados de sofrimento e piedade, em busca de piedade, seus cílios elevam-se em grau oblíquo e logo recaem. O urso anda cansado, seus cabelos já grisalhos, mas retém ainda a força gigante que é sua nos traços e nos músculos. Como se a qualquer momento pudesse, se quisesse, reerguer-se soberano na floresta! Mas isso tudo, é só do seu casco. Porque o seu urro é manso e o que ele me diz é que anda blasé com a vida. Já leu de tudo, já viu de tudo, já viveu em tantos lugares. Ainda se surpreende, com o sexo (imagine só, de tantas coisas mais surpreendentes!), mas o resto, ao que parece não... Duelamos em muitas coisas, mas nos entendemos na linguagem, na base, e isso é bom. Como dois devotos espadachins, em uniforme branco acolchoado, nos aquecendo dentro do círculo de giz. Touché!
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terça-feira, 6 de maio de 2008

Lançamento Digital:

Alquimia do Centro-Oeste já está disponível em PDF!
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TEASER do CONTO:
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.....Alquimia do Centro-Oeste tem como enredo central a história do gaúcho Luis De Castilhos que migra para o Norte do Mato Grosso nos anos 70 num projeto de colonização do Governo Federal. Ele é assentado em terras originalmente indígenas, da etnia Panará e durante duas décadas vive seu sonho agrícola. A novella é narrada por um índio Panará, chamado Aké (apelido Juruna) que, expulso de suas terras ainda adolescente, termina trabalhando para Luis e tornando-se seu fiel capataz. Na virada dadécada de 90, no entanto, descobre-se ouro na área de fazenda próxima ao rio Peixoto de Azevedo e ocorre então a grande invasão do garimpo de Peixoto de Azevedo, trazendo para a região imigrantes do Norte e Nordestedo país. Luis de Castilhos torna-se o grande líder dos produtores rurais contra o garimpo, contrapondo-se à Messias, líder carismático dos garimpeiros. Ao mesmo tempo que repudia, Luis fica fascinado pela cultura do garimpo, ganha e perde algumas batalhas políticas, mas a batalha maior, no âmbito pessoal, ele perde, pois termina efeitiçadopelo modo de vida dos garimpeiros...
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