terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Geisy

Muitos ainda se lembram da estudande de turismo que foi hostilizada na Faculdade Uniban por usar um vestido cor-de-rosa curtíssimo. Na época, alguns se posicionaram a favor e outros contra ela. As feministas defenderam o seu direito de vestir-se como bem entendesse, frente aos "talebans". Já outros, acham que faculdade é lugar para se aprender e não seduzir. Logo, a história passou...
.....Fazem alguns dias, a história voltou de forma perturbadora. Estava assistindo o Fantástico (às vezes rola, vou ser sincera) e aparece Geisy após uma lipoaspiração (de R$32.000,00, que ela ganhou) e outras mil intervenções no cabelo, na pele, nas roupas, etc. O objetivo de tudo isso: transformar a moça em musa do Carnaval 2010. Ela vai desfilar em São Paulo (pela Gaviões) e no Rio em outra escola. Ela, que já era bonita, ficou realmente "uma gata"...na hora, fiquei de boca aberta. Quem quiser ver, tem o link no You Tube rebolando para a câmera à la Gretchen e timidamente aprendendo a sambar...que remédio.
.....Desde então, e durante o chuvoso feriado, aquela imagem dela transformada me incomoda. Geisy passou pela máquina de moer moças comuns & fazer celebridades. Como tantas outras, como Carla Perez (ex-dançarina do É o Tchan), Isis (do BBB), elas eram uma pessoa e entregaram o seu corpo para um cirurgião que as transformou em outra. Com isso, muda a forma como as pessoas se relacionam com ela, as atividades do dia a dia dela, o tipo de amigos e namorados que ela vai ter. É uma transformação de fora para dentro, repentina e radical. Como disse ela, ao ser entrevistada, "Eu olho no espelho e não acredito que sou eu."
.....Eu torço pela Geisy. Ao que parece, ela é uma moça simples e vaidosa. De repente, ela vê tudo isso como uma coisa boa, ao menos como uma chance de ganhar dinheiro e se tornar famosa, que parece ser algo compatível com o seu sonho de vida.
.....No entanto, algo me entristeçe nisso tudo. Penso que é a noção de que para ela se tornar famosa, ela tenha que deixar de ser ela mesma para ser outra. Também, que só o dinheiro possa fazer isso. Geisy, que era estudante, se tornou uma empresa. Investiram dinheiro nela, porque sabem que ela vai vender no carnaval. Os investidores são o cirurgião, a clínica de estética, os cabelereiros (de olho eu outras Geisy's potenciais), assessores de imprensa, as escolas de samba. Os compradores: nós, os espectadores. E Geisy? Ela está no meio. Ao menos o corpo dela....

Fundação de Sampa

Texto de José de Souza Martins, O Estadão, 25/01/10
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.....Há pouco mais de 100 anos, a cidade de São Paulo começou a ganhar sua feição social e culturalmente pluralista, o que acabou fazendo dela uma das emblemáticas cidades cosmopolitas do mundo. Acolheria não só estrangeiros que aqui se tornariam brasileiros sem perder a poesia de sua origem, mas brasileiros de todos os cantos que aqui se abrasileirariam nos horizontes de um novo Brasil. A humanidade mora aqui, lugar de encontro e diversidade. Tanto há espaço para os que buscam refúgio nos nichos de conservadorismo político e cultural, quanto há espaço para os que buscam o agito colorido das inovações, mesmo as que parecem sem pé nem cabeça. Tudo acaba dando certo na tolerância inevitável de uma cidade em que a diversidade social e cultural é tão grande que não há como resistir a ela e não há como não aprender com ela.
.....O povoado de São Paulo do Campo nasceu em 25 de janeiro de 1554 como uma escola, tendo como um dos mestres um dos maiores criadores de cultura da história da invenção do Brasil, que foi o jovem padre e poeta José de Anchieta, aliás descendente de judeus pelo lado materno. E São Paulo se manteve como ampla e aberta escola desde então, até o cume desse processo que foi a criação e a expansão da Universidade de São Paulo, respeitada como uma das melhores do mundo.
.....Pode-se, pois, falar no espírito da cidade de São Paulo. Esse espírito está naquele Cristo agônico, da Igreja de São Bento, que um morador de São Paulo esculpiu no século 18, um Cristo barroco que agoniza convidando à vida, síntese estética das contradições do tempo histórico que é marca de Piratininga. Está na Cripta da despojada Catedral de São Paulo, que plasma a mentalidade tão paulista de d. Duarte Leopoldo e Silva, que nela mandou sepultar, lado a lado, duas figuras emblemáticas de nossa história: o Cacique Tibiriçá, que acolheu nas terras de sua aldeia o colégio dos jesuítas; e o padre Diogo Antônio Feijó, paulistano que foi Regente do Império, liberal que quis inovações para a Igreja, que recusou a condição de bispo de Mariana (MG) e que, embora paralítico, esteve à frente da Revolução Liberal de 1842, que teve seus primeiros combates no que é hoje a entrada da Cidade Universitária. Preso político, seria solto para morrer falsamente livre e não como vítima da prepotência e da intolerância do Estado tendencialmente absolutista.
.....O espírito de São Paulo, está também nesse Anhembi de lirismo bandeirante que é a poesia de Paulo Bonfim, belo caudal de sonhos, de história e de esperança. Está na Rua Tabatinguera, que conserva o traçado e o nome desde o século 16, “caminho real muito antigo” diz uma ata da Câmara da Vila de São Paulo, de 1620, caminho do mar, lugar de entrada dos que chegavam, rua de anfitrião, vereda de acolhimento.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

I Love Duda!

Gente, aproveitando a maré de homenagens às grandes mulheres, quero declarar publicamente que "I LOVE DUDA." Quem é Duda, vocês me perguntam? Olha, eu nem vou dizer quem ela é, para preservar a sua identidade, mas vou dar um exemplo do que ela faz que demonstra como ela supreende a cada instante. Hoje na hora do almoço, ela se senta comigo no restaurante com os seguintes itens na bandeja: sanduiche de salmão & molhinhos, coxinhas e um super bolo de morango. Até aí, tudo normal. Então, ela volta-se para a colher e começa a comer o bolo! Antes que eu estranhe, ela me explica: "Eu começo sempre pela sobremesa, viu." Ah, é? Porque? "Porque eu gosto mais de salgados, então eu prefiro inverter a ordem." Explicação simples e objetiva para esse grande ato genuíno e subversivo. Quantas vezes na vida nós ousamos inverer regras impostas para nós que não têm nenhuma lógica? De fato, comer o salgado antes do doce é uma convenção esperando ser quebrada. Nunca tinha pensado nisso. Enfim, só para dar um pequeno gostinho do que é Duda! Essa mulher é demais!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Homenagem à Zilda Arns

Que notícia triste que eu li agora...Zilda Arns está entre as vítimas do terremoto que assolou o Haiti! Ela sempre foi para mim um destes exemplos de mulher, uma profissional, uma grande filantropa, uma pessoa digna, que realmente conseguiu fazer a diferença na área social do Brasil. Todos que conhecem o interior do Brasil já viram uma fila de mães na porta da casa paroquial esperando para pesarem seus bebês (num gancho pendurado improvisado de balança) e conseguirem uma dose da multimistura. Este era o projeto que Zilda Arns conseguiu executar com grande êxito no Brasil inteiro, salvando milhares e milhares de pequenas e frágeis vidas. A chave deste sucesso: acreditar no poder da mobilização social e nas soluções criativas, de baixa tecnologia & custo. Me emocionou muito esta notícia. Eu não sei qual morte pode ser boa, mas morrer na rua, sob escombros, longe de casa e da família, não me pareceu...sei lá, não me pareceu o que ela desejaria. Ao mesmo tempo, é uma morte de heroina, digna de Zilda Arns, que dedicou a vida à uma causa e, agora, morreu lutando por ela. Que descanse em paz, Zilda, após uma grande vida que foi sua!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Quadros que Escritores Gostam

Um dos últimos passeios do ano foi à amada Pinacoteca do Estado e, desta vez, deparei-me com um quadro que gostei muito porque ele conta parte de uma história e instiga a nossa imaginação a pensar: o que aconteceu aqui? É o tipo de quadro que escritores gostam. Minha primeira impressão foi que este cavaleiro estava galopando com seu cavalo pelos campos quando encontrou um grupo de "cangarceiros" no caminho. Eles abriram fogo. O cavaleiro até tentou revidar (por isso está com a arma em punho), mas caiu do cavalo e morreu. Hmmm...neste caso, porque os cangarceiros não teriam aproveitado para roubar o cavalo? O que seria então? Suicídio? No meio do caminho?

Feliz Ano Novo

Aos poucos vou retomando o trabalho e o ânimo para a guerrilha literária. As férias foram um tempo de bastante ócio e reflexões. Li diversos livros, dentre eles O Barão das Árvores, de Italo Calvino, Acordados, de Ana Rusche, O Coração das Trevas, de Josef Conrad, e O Avesso, de Camila Apel. Um justo mix de grandes autores clássicos e jovens autoras amigas!