quarta-feira, 28 de julho de 2010

Crônica: Sair ou Não Sair?

.....Todo lobo adora caçar, mas não vive sem toca. Eu também sou assim. Passo por períodos caseiros, durante os quais nem me lembro de que algum dia sai na noite e nem sonho em repetir isso no futuro. De repente, aparece a "balada" e lá estou eu me divertindo. Ontem foi assim, depois do curso que estou fazendo e o livro que estou lendo. Olha que eu ia só dar uma passadinha para encontrar meu marido num evento de livraria e irmos juntos para casa.
.....Chegando lá, o evento em si eu não consegui nem ver. Ficamos na "boca do auditório" conversando com outras pessoas que também não conseguiram entrar no recinto, devido à lotação, e lá mesmo rolou a "balada" (termo que uso de forma genérica, para dizer de badalações ou momentos de diversão que valem a pena).
.....De cara, encontramos o Izan Petterle, amigo fotógrafo. Dentro de alguns minutos falávamos sobre o tempo do artista, que se deve medir em décadas ao invés de anos. Ele me dizia que não tinha pressa, que respeitava o ritmo dele, afinal, tinha todo o tempo do mundo. Eu, que sempre fui ansiosa em relação a isso, disse a ele, "Como você pode ter tanta certeza? A vida é efêmera e amanhã qualquer um de nós pode não mais ser..." Ele me deu uma bela resposta. Disse que, no budismo (doutrina que ele acompanha), o medo da morte resulta em medo da vida. "A vida é eterna" ele eccou. Não devemos olhá-la como uma estrada que terminará abruptamente, mas como uma que em algum momento bifurcará para a esquerda ou a direita, continuando de outra maneira. Essa noção pode nos dar a paz para viver sem medo e, portanto, plenamente.
.....Bom, só isso já me valeu o dia e a noite, provavelmente vários dias e noites aconchegantes em casa assistindo TV e comendo pipoca.
.....Além dele, haviam dois rapazes que trabalham em empresas de telefonia, mas sonham em viver de arte, como fotógrafos. Eles estão naquele ponto "panela de pressão", não mais tolerando os ternos que os amarram e a perspectiva de mais um dia na rotina do trabalho. Me lembrei que já passei por isso, faz três anos. Eles idealizam a vida de artista, isso é certo. Não imaginam os "perrengues" e "micos" pelos quais passamos, que às vezes nos dão até saudades de um dia ter tido um cartão de visitas e uma entrada regular de combustível financeiro. Eu pensei em alertá-los sobre isso, sem desencorajá-los. Antes disso, um deles, que estava com mais garra do que eu, me deu a segunda valiosa lição da noite: "Você pode passar pelo que for, mas na hora em que alguém ler o seu livro, que seja uma única pessoa, e lhe disser que a sua história o tocou, você sentirá que vale a pena." É verdade. Na hora em que ele disse isso, me veio a sensação eufórica que eu tive ao ler D.H. Lawrence e Aldous Huxley, na adolescência, que me instigou a paixão pela literatura. São as coisas que fazem a vida, curta ou longa, valer a pena. Como fotógrafo, este rapaz sonha seu filho um dia ver uma foto dele e achar "Do caralho, pai!" Ele sabe que enquanto ele trabalhar num call center isso nunca vai acontecer.
.....É isso, artistas de todas as sortes! Façam as suas apostas: Sair ou não sair de casa? Sair ou não de um trabalho bem remunerado?

2 comentários:

Izan Petterle disse...

Deborah, que lindo texto, aqui trazes uma bela lição existencial, é o ponto onde a vida encontra a arte, adore1! bjs...

Anônimo disse...

Deborah, que tudo! Amei o texto e, principalmente, sua coragem (vamos chamar assim) de admitir que o mais importante das esquinas da vida são as lições humanas. Tudo. Amei te conhecer. bjs... Clean Barros