sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Reflexões Dostoiévskianas sobre Gaza

Fico acompanhando as notícias sobre a Guerra em Gaza e buscando o significado disso tudo...eis que, mas uma vez, Dostoiévski é quem traz luz.
Pensei muito em Crime e Castigo, romance protagonizado por Raskólnikov, professor de línguas, que vive angustiado com sensação de que precisa fazer algo de grandioso com sua vida, dar uma contribuição para a sociedade etc. Acaba planejando a morte de um agiota e o faz. Ao fugir da cena do crime, no entanto, ele percebe que uma velinha foi testemunha e termina por matá-la também. Raskólinikov passa o resto de seus dias refletindo sobre o seu grande ato de coragem e covardia e a velinha torna-se o símbolo das "causalidades" de guerra na literatura mundial. A questão é: Vale a pena matar a velhinha inocente? Os meios justificam mesmo os fins mais nobres?
(aos que curtem adaptações modernas, vale assistir o filme de Woody Allen, Match Point)
A guerra entre Israelenses e Palestinos revive esta questão, pois ambos lados certamente lutam por aquilo que consideram a causa mais nobre. Os Israelenses, como guardiões da "terra prometida" dos judeus, e os Palestinos (ao menos os partidários do Hamas), como um povo que busca reganhar suas terras e dignidade - ambos o fazem a qualquer custo. Ou seja, na visão deles, vale a pena matar a velhinha.
Ambos os lados, justificado por seus fins, são os responsáveis pela matança de centenas de crianças e adultos (que nada mais são do que crianças crescidas, muitos deles não menos inocentes). Vale a pena?
Esta reflexão foi muito feita durante o Século XX quando, em nome do comunismo e nacionalismo, diversos líderes mundiais causaram a morte de milhões de pessoas, por fome ou guerra, em nome de ideais e reforma políticas. Quando estive na Rússia ouvi que certa vez disseram a Lênin (na Década de 20) que se ele mantivesse sua política econômica dois terços da população russa morreria de fome e ele respondeu, "Se for para o outro terço viver no socialismo, valerá a pena."
Será que o pensamento do Século XX tornou o mundo um pouquinho melhor? Sei que pode parecer uma bandeira humanista e naive a minha, aliás, até sei que isto bem é verdade. Mesmo assim, sinto que o conflito Israel/Palestina é um resquício da história do Século XX e, por acreditar em inovação, a pergunta que me faço é: Será que a "Era dos Extremos", como o historiador Eric Hobsbawn batizou o Século XX, não termina nunca?

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