segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Adiei o quanto pude...

...mas o sentimento de dever cívico não me permitiu desencanar totalmente das eleições e resolvi dedicar o domingo a noite ao debate dos candidatos a prefeito de São Paulo.
.....Não sei se é porque este ano eu ando mais focada na forma do que no conteúdo, mas o que mais chamou a atenção foi como que: quanto melhor nas pesquisas estava um candidato, pior eram seus argumentos! E vice e versa!!! Os candidatos desconhecidos, que não têm nem 1% das intenções de votos, apresentavam idéias e planos de governo de bom senso, enquanto os líderes de pesquisa brigavam sobre o tamanho das piscinas dos CEUs em cada gestão (se a água era aquecida ou não!) ou se internet gratuita para São Paulo inteira (wi-fi) custaria 43 milhões de reais ou 2 bilhões de reais!
.....Conclusão que tirei: só ganha eleição quem já passou da época de pensar que política tem a ver com planejamento, ideais políticos ou conhecimento dos problemas da cidade. Na era do marketing político, ganha quem consegue levantar uma bandeira bem colorida e gerar uma boa polêmica!

sábado, 27 de setembro de 2008

Ressaca de Oficina

Ontem fui à estréia de Os Bandidos no Teatro Oficina e hoje acordo com meus sensos (& meus sentidos) todos difusos! Acho que o que há de tão especial no Oficina é esse nível no qual a peça te toca. Aliás, peça? Que peça era mesmo? Schiller, né? É que não é só a peça. Na experiência Oficina, que começa no burburinho da entrada, varre o eixo central do teatro, o bandeijão do intervalo, os rostos de tantos que conhecemos e nem tanto e também nossos poros mais íntimos...parece que a peça torna-se quase acessório...e eu adoro essa pan-fodeção dos sentidos que é o teatro Oficina. Chegamos às oito, Bruna e eu, e a peça acabou lá pelas três e meia da manhã, sendo que durante essas mais de sete horas fomos expostas a tudo o que se pode imaginar em termos de imagens, sons e idéias no imenso sonho de uma noite de verão no qual o Zé Celso transforma todas as peças. Tudo em casa, tudo familiarmente assustador. A força magéstica do ator. Foi só lá pela meia noite que começei a sentir o meu raciocínio ceder...em parte pelo cansaço. Daí deitei-me no banco duro envolta no cachecol e então as cenas começaram a chegar para mim indefesa, em outro plano. Havia me rendido. Era este seu objetivo. Daí em diante, ora eu quase cochilava na comodidade do hábito às imagens, mas logo me sacudia e então dançava e logo pulava e me encantava com as cenas magníficas com a qual ele brilhantemente pontua a experiência (o resto todo é só para te preparar para elas: folhagem para as rosas) e que ficam, num lugar sublime da mente, do coração e do tesão. Ai...que vontade de voltar lá de novo hoje e amanhã e depois; ou então nunca mais! Coisa de paixão.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Post de um Anônimo

Às vezes pessoas anônimas deixam os posts mais lindos aqui no blog...não se identificam jamais, como um Papai Noel que presentea e sobe ao céu do seu mistério. Ontem, recebi um destes no post do lançamento de Dentro de Nós, que eu creio ter passado por uma tradução no google translator, pois veio num português truncado. Editei o texto e aqui compartilho:
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....Suas histórias realizam-se como nós que devemos viver a partir do momento em que nascemos.
....Não tenha medo! Às vezes uma menina corre para seu pai. Às vezes um pai implora a remissão de uma filha adulta. Às vezes os homens são homens e as mulheres são mulheres. Às vezes um homem liberta-se e transforma-se numa mulher e às vezes uma mulher liberta-se e transforma-se num homem. O ser humano é um mar das emoções e não uma via de mão única.
.....Alguns açoites são feitos do fogo e alguns açoites são feitos do couro e alguns açoites são feitos dos beijos de uma mulher nos braços de um homem. E alguns beijos são feitos de um chicote. E alguns beijos são feitos do fogo. Mas em todas estas situações, embora possam ser assombrosas, há a oportunidade incessante para que cada homem transforme-se em homem outra vez e para que cada mulher transforme-se em mulher outra vez. O amor vive no ar como uma força invisível e a todo instante ele pode transformar-se num anjo de luz, assim como a todo instante ele pode transformar-se num anjo do fogo. Isso que é essencial está não somente dentro de nós. Isso que é essencial realiza-se não somente dentro de um dado momento. Está nas identidades novas que são criadas por nós nesses momentos particulares. De modo que nós possamos nos conhecer de novo ou encontrar quem somos pela primeira vez em nossas vidas. E nós somos novos.
.....Hoje, um aspeto da revolução pessoal é permitir que a mulher tenha tanta liberdade quanto deseje ou pouca liberdade, como desejar. É uma questão de escolha. É então sua responsabilidade fazer uma escolha honrada. A liberdade é o direito de decidir onde a essência da verdade se realiza em cada momento particular. Você pode encontrar a oportunidade para a felicidade em meio a todo este caos, se você procurar por isso. Não se preocupe com o saldo de erros. Como leitores e escritores, nós cursamos esta trajetória juntos e abrir portas e fazer visitas são coisas que fazemos somente quando sabemos estar sendo guiados pela intuição.
.....Às vezes há somente dois povos: o leitor e o escritor. E às vezes há três povos: o leitor, o escritor e o espírito criativo. Às vezes dois povos estão distantes do sol e o que os une é a forma que suas sombras combinadas adquirem no vácuo. Desta maneira há o pai, o filho e o Espírito Santo. Desta maneira, um triângulo é às vezes a perfeição. E não se preocupe sobre a forma de um triângulo! Você encontrará em sua própria vida o triângulo que você precisa! Às vezes haverá um divórcio. Às vezes haverá uma união. Às vezes três amigos estarão juntos até tarde da noite e nem notarão que o tempo passou. Às vezes, dois falarão e um ficará silencioso. Às vezes dois jogarão e um será o espectador. Nada disso importa se todos são livres.
.....Há duas barreiras que se chamam: "medo" e "desconfiança". Você pode escalar qualquer barreira. Precisa contar com duas virtudes: “força de vontade” e “coragem.”
.....Boa sorte – com seu livro e com seu vôo!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Blog do Saramago

Que frescor tem sido a leitura do recém-criado blog do Saramago!
Eu já gostava de seus livros e ele virou ídolo quando tornou-se o único escritor de porte a exigir das editoras que seus livros fossem publicados em papel reciclado.
Quando a gente está na net e quer ler algo legal, fica procurando e não acha, vale a pena passar por lá: http://caderno.josesaramago.org/ - tem sempre algo interessante sendo dito de maneira singela e poderosa.

domingo, 21 de setembro de 2008

E-Lançamento: Livro de Contos

Eis aqui o dito assombroso livro de contos, Dentro de Nós, com seus oito contos sobre encontros entre pessoas que surpreendem e se surpreendem com aquilo que encontram dentro de si (que também é nós) em situações limite.
O lançamento é exclusivamente online. Para obter sua cópia em Pdf, deixe um post aqui no blog.

Sobre revoluções...

Estou lendo A Revolução Burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes, em preparação ao meu primeiro romance, que planejo começar a escrever ainda em 2008.
Há um trecho que diz, "nenhuma revolução sepulta todo o passado de um povo." Pode nem ser algo novo o que Florestan encapsulou nesta frase, pois todos sabemos que nem a Revolução Russa conseguiu, por exemplo, sepultar o êxtase religioso do povo russo, ao contrário o fanatismo religioso anda em ascenção por lá. Tantos filmes maravilhosos há sobre este tema no âmbito da Revolucão Cultural da China. Florestan falava especificamente das limitações da revolução causada pela Independência do Brasil, frente à dinâmica social enraizada na nossa sociedade, particularmente a escravidão, mesmo após a declaração e ainda no Século XX...
Mas, quando li esta frase, o que me tocou foi pensá-la no âmbito das revoluções pessoais. Sou daquelas que acredita em mudanças e penso já tê-las vivido de forma significativa. Falo de mudanças em relação ao que sinto sobre pessoas, lugares e idéias. No entanto, é profundo pensar em como é determinante o nosso passado...
É um pouco assim como pintar a parede de verde, mas não conseguir esquecer que foi ela a testemunha de suas brigas de casal. Ou forrar o sofá de amarelo, sabendo que foi ele mesmo que acolchoou a traição. Ou jogar fora o vestido que te deu azar naquela audição, sabendo que o corpo, mesmo envolto em outro pano, há de permanecer. Radicalizando, muda-se então de casa e guarda-roupas completo! De cidade e de país!!! Mas, há de haver sempre aquilo que está dentro de nós e não se transforma plenamente. "Nenhuma revolução sepulta todo o passado de um indivíduo."

sábado, 13 de setembro de 2008

Preta Pretinha - ONG

Hoje foi a segunda pré-assembléia de criação da ONG Preta Pretinha, projeto do qual venho participando junto à Joyce, Lucia e Cris, com o maior orgulho, faz quase um ano.
A ONG nasce inspirada pelas lindas bonecas de pano da loja Preta Pretinha, na Vila Madalena, das quais há as pretinhas, mas também as ruivinhas (meu xodó!), albinas, com síndrome de down, os orelhudos, deficientes físicos, cegos, obesos etc.
A missão institucional da ONG é:
"...contribuir para a construção de um mundo aonde a diversidade humana é valorizada por todos e cada ser humano tem suas características diversas valorizadas pela sociedade, resgatando a sua auto-estima, ao invés de tê-las manipuladas por processos de preconceito causadores de exclusão social e do desenvolvimento inequitativo do país. Esta construção representa uma evolução cultural em pról de uma vida digna para todos, com saúde, moradia, trabalho e lazer."
Dia 25/7 haverá mais uma pré-assembleia, quem puder participar, vale a pena!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A beleza para os russos

Num post anterior começei a contar dos preparativos de minha viagem para a Rússia e falei do curioso atendente do Consulado Russo e sua reticência em conversar comigo ao telefone, "Nhem, nhem, nhem, dá para ligar outro dia?" Na primeira visita, a reserva continuou; ele mal me olhou e me deu informações sem olhar para mim. Hoje, que é um dia ensolarado e alegre, eu resolvi me vestir bem bonita para ir ao consulado e eis que ele não só me olhou, da cabeça aos pés, mas até sorriu para mim! Consegui processar meu pedido de visto em menos de 2 minutos! Acreditam? Mais uma lição sobre a Russia. Aliás, Dona Olga havia me dito já da exuberância da beleza das mulheres russas. Disse-me assim, "As mulheres brasileiras são bonitas, mas as russas são uma coisa diferente, são deslumbrantes." Já vi que vou ter que colocar mais um rímel na mala se eu quiser passar tranquila pela imigração!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

1.000 visitas!

Faz dois meses, um amigo me introduziu ao chamado Google Analytics, que é um programa que faz estatísticas de visitação de blogs. Registrei Ressurgência Icamiaba neste sistema e, hoje, compartilho a alegre notícia de ter chegado a 1.000 visitas neste tempo!!!
Surpreende a diversidade das visitas. Pessoas de 29 países e 68 cidades brasileiras visitaram o blog. Dentre os países mais assíduos está a Inglaterra, que por tantos anos foi meu lar, Israel e países tão diversos quanto Portugal, Russia, Taiwan, Croácia, Arabia Saudita e Angola. Imagino que sejam brasileiros saudosos da terrinha! No Brasil, a maior parte dos visitantes é do eixo São Paulo - Rio, mas há visitas de todas as regiões e praticamente todos os Estados, tanto aqueles do coração, como Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pará, quanto Estados que eu ainda não tive a oportunidade de conhecer como Rondonia e Goiás!
Gente, voltem sempre e apresentem-se! Deixem posts ou conversemos por e-mail, inclusive abri um novo e-mail para o blog: deborah.icamiaba@gmail.com
Saudações icamiabas!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Assombrada

Ontem, eu completei a versão preliminar do meu primeiro livro de contos - Dentro de Nós.
Não sei se vou ter coragem de algum dia publicá-lo porque ele é ASSOMBROSO. Digo isso porque eu mesma estou assombrada desde que eu o concebi.
É um livro cuja característica central é o SURPREENDENTE. Aquilo que está dentro de nós ou dentro dos outros (que é também nós) e surpreende em situações limite em que surgem.
Eu havia escrito no prefácio "ora são coisas simples e encantadoras, ora são vícios e viços terríveis, todos mistérios profundos da alma" que é uma maneira comercial e superficial de falar disso. Agora eu cuspo nisso!
Me irrita como as palavras tem o poder de amenizar os sentimentos. Particularmente no papelo, fica tudo tão lisinho, sequinho e bonito, quando tudo é também crespo, molhado e horrendo. Eu me ouço falando com as pessoas sobre fatos ocorridos e vejo-as entretidas com as histórias e nenhuma delas me diz, "Dé, pára! Olha o que você está me dizendo!!!"
Vou parar de falar. Vou começar a andar pela rua com a máscara do Freddie Krueger na cabeça!!! Já contei que uma dia eu vi um homem andando com o cachorro dele à meia noite com uma máscara destas na cabeça? - foi assombroso!!! Ou seja, o cara era super verdadeiro!!! risos!!! Deveria ter ido falar com ele para dar os parabéns, mas naquele dia eu fugi dele com medo, porque é isso o que a gente faz o tempo todo. Fugimos sempre do que nos assombra.
E para onde vão estas sombras?
É isso que vive dentro de nós e, de repente, surpreende.

O Sanfoneiro do Parque

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sem Pedigree

Os passeios com Siri e Sereia pelas ruas do meu bairro continuam sendo uma grande fonte de inspiração e contato com o que há de mais louco e generoso nos seres humanos.
Hoje, pela manhã, conversava com uma vizinha que tem um pequeno poodle preto chamada Cauã. Ela me disse que pegou-o num pet shop alguns anos atrás, porque ele havia sido o último de uma ninhada que restara ali sem dono. Por cinco meses o cachorrinho aguardava um dono encurralado numa grade na vitrine. A razão: havia nascido com uma pata branca e por isso perdera o pedigree! Ninguém o queria assim. Aparentemente, só os de pêlo homogeneamente preto eram merecedores de tal certificado. Fiquei pensando no como os idealizadores do sistema de pedigree de cães chegaram à esta conclusão absurda. O pequeno Cauã, dócil como ele só, restara ali ostracisado pela sua pata branca. A vizinha, comovida com a situação, adotou-o. Quando chegou em casa, os filhos torceram o nariz para ele porque "poodles são cachorros de madame" e eles preferiam um vira-lata! Vai entender!!!

sábado, 6 de setembro de 2008

Nem Mesmo as Chuvas

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
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teu mais ligeiro olhar facilmente me decerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
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ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
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nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
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(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.
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Postado por Mamoco Meremaes.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Poemas

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Fazemos com as palavras como
as gatas fazem com as penugens.
Lambemos as rimas e as estrofes
até elas ficarem limpas e lustrosas.
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...................................(para ser lido com sotaque carioca)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

CONTO NOVO: Lucia e Jeremias

Hoje você têm uma escolha! Clicar ao lado no link do Domínio Público e ler um daqueles contos de Machado de Assis que você sempre quis ter tempo para ler OU deixar um post para ler o meu novo conto: Lucia e Jeremias! É da série de encontros entre pessoas em lugares bizarros, assimo como Zac e Juliette da semana passada. Abaixo um teaser:
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".....Era quase noite na cozinha cercada de telas verde musgo. A louça do jantar já secava de cabeça para baixo sobre a pia de inox e Dona Lourdes já havia se recolhido. O canto das cigarras e de nada mais anunciavam que a noite seria precoce em encaminhar os hóspedes do alojamento sede da Vila Operária Florestal para o sono.
......Lucia olhava para a rua de terra batida margeada por densas mangueiras. Estava viva ainda. Curiosa para saber o que acontecia de noite na Vila. Trabalhara o dia todo e, como toda moça jovem, queria sair e conversar, mas sozinha talvez não fosse seguro. Tinha vergonha de convidar o gerente da empresa e, no mais, qual seria a graça de sair com ele com quem passara o dia falando de trabalho. Cogitava arriscar um vôo solo, quando apareceu na cozinha o despojado piloto do avião, Jeremias."

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ver-o-rio

Será que os ateus surpreendem-se na porta do céu?
A verdade é que perdi a fé, mas continuo agnóstica.
Enquanto houver o riso, será que a travessia se faz?

Nunca um gesto de carinho
Será que quando caminharmos pela orla haverá sonho?
Nunca a generosidade com as palavras
Será que a maresia há de neutralizar a poluição da alma?
Nunca um ir além de si para fazer o outro sorrir
Será que a correnteza forte dissipa esse meu olhar triste?
Até hoje, só este brilho incessante...

Melhor aqui
no conforto
da paz reclusa.

Não é pouco
para quem já teve como perspectiva única
o desânimo.
A ladeira mais íngreme do mundo pela frente.

E que vontade de nos dar uma trégua,
dormir abraçados e não dizer nada.
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Porque quando soa sua voz tudo ainda se alegra?

Melhor aqui
no conforto
da paz reclusa.

Será fuga de um amor maduro
sabido do que é e não é e perplexo como a força de ainda ser?

Ou o renascer da crença
de que assim, amanhã,
surgirá um amor bom?