domingo, 19 de outubro de 2008

Balada

Sintoma dos tempos confusos é o colapso das palavras. No recinto ensurdecido pelos sonidos estridentes das máquinas eletrônicas, o motor que move os seres é o álcool. Em direção ao bar iluminado de elixires coloridos e florescentes. Como em Damien Hirsch, o bar é a farmácia do novo século. Os seres secos se movem da porta de entrada para o balcão e seus olhos mudos imploram por copos grandes repletos de frutas amarelas, pequenas garrafas marrons com selos das marcas do fermento ou as grandes em tons de sangue e anil. Jorram dezenas e centenas de moedas de seus bolsos para rodar a engrenagem do negócio, afinal, é isto o que há que não é confuso. Abastecidos, olham-se entre si os seres, ocasionalmente, quando não se perdem nas telas de ação exógena. A visão é o sentido que resta, substitui a compreensão e tatua nas peles translúcidas os símbolos, perfura nos orifícios salientes os totens, colore nos pêlos dos corpos as nuances. A loira de mechas roxas com um unicórnio nas costas nuas do decote flerta com o rastafári de seis bastões atravessados na cartilagem da narina esquerda. Eles lêem-se. Ela se aproxima. Ele puxa seus cabelos para trás e a beija. Gatos pardos na noite.

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