terça-feira, 28 de outubro de 2008

Rumo à Russia

Agora é pra valer! Icamiaba toma o rumo do sonho russo esta noite.
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Haviam planos de escrever um cahiers de voyage online no blog, mas não há como saber que grau de acesso à net terei durante a viagem.
Sempre que puder passo por aqui!

domingo, 26 de outubro de 2008

Em branco

.....A hora do voto é a hora da verdade. Diga o que diga, pense o que pense, quando passamos pelo portão do local de votação o coração bate mais forte. É a hora da verdade. Pode-se nem ligar para política e desacreditar da democracia, mas ali não há como evitar uma coisa que é muito evitada: tomar partido.
.....Hoje na hora do voto foi emocionante. Vinha surfando o movimento da minha cidade, a vontade “baixar a crista” de Marta e do PT, que está muito confortável no poder, e pensando em votar no novo prefeitão, o Kassab, que é bem no estilo que o paulistano gosta, pois é destes que “tem peito” de fechar os bares da zona sul com tijolos e rótulos de LACRADO que impedem até o dono de entrar, numa releitura do estilo do famoso Jânio Quadros que até descia do seu carro para multar infratores de trânsito na rua!
.....Mas na hora...em pensar naqueles que o cercam...em pensar no seu projeto político que não há, que é invisível...em pensar que o DEM é o PFL...em pensar que ele tem Andrea Matarazzo como braço direito, o que indica que ele é de uma turminha da pesada. Não consegui. Pensei na opção Marta. Será que é preconceito? Por ela ser mulher, sexóloga, ter deixado o bom marido pelo franco-argentino-gangster que bate nela na cama? O PT é, afinal, o partido do desgoverno democrático por essência, é o partido que agrega as mais diversas correntes populares do Brasil. Mas na hora...
.....Resolvi então votar em branco, pela primeira vez na vida. Não soube em quem votar. Não me identifico com nenhum dos candidatos. Não quis votar de forma obtusa, “para o fulano perder.”
.....Meu voto hoje foi um branco como um vácuo, restrato do olhar parado do eleitor perplexo.

Balada II

O efeito que a bebida surte nas pessoas é um tema que sempre me fascinou.
.....Na cultura grega dizia-se que o efeito que o Deus Bacco provoca nas pessoas é denominado entusiasmo (uma de minhas palavras favoritas!), o que significava estar "em um" com Deus. Ou seja, nesta tradição, a elevação causada pelo álcool aproxima-nos de nós mesmos, da espiritualidade e daquilo que somos em transcendência.
......Numa destas altas madrugadas que venho habitando batíamos papo sobre este tema e perguntei aos nocturnos (pessoas que vivem na noite) o que eles achavam: a bebida nos aproxima ou distancia daquilo que realmente somos?
.....A pergunta sempre surte efeito desconcertante, mas para o segurança da noite, aquele que não bebe, pois é o guardião, não houve dúvida: "A bebida faz a pessoa ser aquilo que ela queria e não tem coragem de ser"
.....O que vocês acham?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Parque Ibi...

...continua sendo um dos meus lugares favoritos no mundo!!!
(no maravilhoso Dicionário das Palavras Brasileiras de Origem Indígena, de Clóvis Chiaradia, diz que Ibirapuera ou ibirá-puera, quer dizer: que foi árvore, que foi mata ou árvore velha.)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Caso Eloá

Hoje no blog da Márcia Bechara http://marciabechara.blogspot.com/ tem um post muito interessante sobre o Caso Eloá, em que ela chama a atenção para o aspecto machista do sequestro, cárcere privado e assassinato da menina de 15 anos. Em nenhum momento a mídia deu o nome correto ao ato: feminicídio. Creio eu que seja essencial olhar por este ângulo os acontecimentos, pois é mesmo de surpreender que em 2008, entre jovens de 15-20 anos, ainda paire o pensamento de que uma mulher não possa escolher seu namorado e depois escolher não mais o ter como namorado sem estar sujeita a este tipo de reação. A dificuldade de aceitação desta escolha por parte do tal Lindembergue, por mais que tenha sido inflada por alguma doença mental ou desequilíbrio emocional, teve como fator instigante o machismo, vivo e viril, até mesmo mais de um século após o início da revolução feminista. Vejam mais no blog da Marcia!

domingo, 19 de outubro de 2008

Balada

Sintoma dos tempos confusos é o colapso das palavras. No recinto ensurdecido pelos sonidos estridentes das máquinas eletrônicas, o motor que move os seres é o álcool. Em direção ao bar iluminado de elixires coloridos e florescentes. Como em Damien Hirsch, o bar é a farmácia do novo século. Os seres secos se movem da porta de entrada para o balcão e seus olhos mudos imploram por copos grandes repletos de frutas amarelas, pequenas garrafas marrons com selos das marcas do fermento ou as grandes em tons de sangue e anil. Jorram dezenas e centenas de moedas de seus bolsos para rodar a engrenagem do negócio, afinal, é isto o que há que não é confuso. Abastecidos, olham-se entre si os seres, ocasionalmente, quando não se perdem nas telas de ação exógena. A visão é o sentido que resta, substitui a compreensão e tatua nas peles translúcidas os símbolos, perfura nos orifícios salientes os totens, colore nos pêlos dos corpos as nuances. A loira de mechas roxas com um unicórnio nas costas nuas do decote flerta com o rastafári de seis bastões atravessados na cartilagem da narina esquerda. Eles lêem-se. Ela se aproxima. Ele puxa seus cabelos para trás e a beija. Gatos pardos na noite.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

L'Esprit II

Quando um homem...
cita Clarice no primeiro encontro,
sabe em que ponto do Livro dos Prazeres Lorelei descobre-se,
tem (também!) Jack London como livro de cabeçeira e
ainda recita Borges nos e-mails da tarde...
saiba que: f*deu
e corra para os seus braços!

Arte Poética, de Borges

Mirar el río hecho de tiempo y agua
Y recordar que el tiempo es otro río,
Saber que nos perdemos como el río
Y que los rostros pasan como el agua.
Sentir que la vigilia es otro sueño
Que sueña no soñar y que la muerte
Que teme nuestra carne es esa muerte
De cada noche, que se llama sueño.
Ver en el día o en el año un símbolo
De los días del hombre y de sus años,
Convertir el ultraje de los años
En una música, un rumor y un símbolo,
Ver en la muerte el sueño, en el ocaso
Un triste oro, tal es la poesía
Que es inmortal y pobre. La poesía
Vuelve como la aurora y el ocaso.
A veces en las tardes una cara
Nos mira desde el fondo de un espejo;
El arte debe ser como ese espejo
Que nos revela nuestra propia cara.
Cuentan que Ulises, harto de prodigios,
Lloró de amor al divisar su Itaca
Verde y humilde. El arte es esa Itaca
De verde eternidad, no de prodigios.
También es como el río interminable
Que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
Y es otro, como el río interminable.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

L'Esprit

Há poesia que
jamais (re)pousa
em papel.
Vive livre
viaduto a vida.
Flama de fogueira
que estrala no ar
(ou no mar)
nas noites estreladas
de São João
(ou não).

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Fog

.....Nasci no meio do nevoeiro, no fog. Por esta razão, minha visão das coisas foi sempre limitada, mas assim me acostumei. No fog um homem feio não assusta, pois tem a feiúra atenuada na incerteza. Os lobos nós só vemos quando eles já estão perto o bastante para sabermos que não nos atacarão. No fog vive-se no presente e valem mais as palavras sussurradas e os gestos praticados. Tão entregue a este universo, tornei-me um ser sensual que gostava de tocar nas coisas, acariciá-las, caminhar sem saber para onde e até deixar-me levar pela ventania como se fosse folha. Sentia a vida ao invés de encará-la. Fui feliz, não há como negar.
.....Havia sempre um velho sentado no banco do parque do Hampstead Heath que me dizia, “Menina, você não presta atenção nas coisas. Qualquer dia vai cair dentro de um buraco.” Eu ouvia sua voz na bruma, cética de todo, ria da barbona branca dele e saia perambulando pela vida a fora. Passava os dias na rua e as noites também, pois às vezes nem dentre estes eu distinguia em meio a tantas emoções.
.....Um dia eu cantarolava pela beira do Rio Tâmisa e pluft - cai dentro de um buraco. Lembrei-me do velho. Sei que alguém gordo me alçou de volta e bombeiros vermelhos me levaram para um hospital na cidade. No início foi terrível, pois minha doença dissipou a névoa. Passei a ver tudo nitidamente. Tive medo dos médicos, pavor dos cachorros do outro lado das ruas, pânico dos policiais e dos políticos na TV. Tudo o que eu queria era curar-me para voltar para a vida no fog.
.....Quando finalmente recebi alta corri rumo ao meu bairro Hampstead. Quando cheguei lá, que tristeza, vi que o nevoeiro tinha se dissipado ali também. Corri para o parque, que era mais ao alto, mas mesmo lá não havia mais nada. Enxergava tudo, árduamente tudo. Desesperei-me!
.....Foi quando ouvi a voz do velho me chamando. Fui até ele e inquiri sobre o porquê de tal punição. Ele me disse, “Eu não te disse que um dia você ia cair dentro de um buraco?” “Mas o que tem o buraco a ver com isso?” “O buraco, menina, é o que ensina a gente que as estruturas existem, não só as sensações.” “Mas porque a névoa se foi?” “Ela não se foi. Ela nunca existiu. Vivia dentro de você, assim como um dia viveu dentro de mim. Depois que se cai no buraco, ela vai embora da gente.” Abismei-me, “Você também caiu no buraco?” “Cai.” “Faz tempo?” mirei a sujeira de sua barba mal feita. “Faz.” “Porque isso acontece?” “Não sei” ele disse resignado. “Desde então, o que você faz?” “Fico sentado aqui no banco do parque esperando o inverno. É o ponto mais alto da cidade. Às vezes, o fog vem e fica por algumas horas.”
.....Olhei para o horizonte do fim de tarde e a abundância verde das árvores que o cercavam. Era um lugar bonito, apesar de melancólico, “Posso sentar-me contigo?” Ele permaneceu quieto por um tempo, depois disse, “Pode. Saiba que ela pode demorar.” “Eu espero-a.”

O inexorável ser

Para Charles Trocate

A folha é verde
como você é negro
e eu sou branca.

Suas asas
lhe revoam pelo céu.
Minhas raízes
me agarram às pedras.

Sou orquídea de pedra e
você é besouro de chapada.

O penhasco é íngreme.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Engenheiros do Hawai

Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração...
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Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...
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Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Sem querer eles me deram
as chaves que abrem essa prisão...
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Somos quem podemos ser...
Sonhos que podemos ter...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Floresta em Pé

Ser minoria

.....Num dia como o do resultado das eleições é que se percebe como se é minoria. Minha candidata (Soninha) recebeu 266.978 votos, numa cidade de 18 milhões de habitantes. Nem todos votam, mas dentre os que votam só 4.19% deles votaram nela. Isso me diz que vivo cercada de 95.81% de pessoas que pensam diferentemente de mim - em relação ao candidato, ao que a cidade precisa, à política local. Cruz credo!!!!!!!!!!!!!!
.....Ao longo desses dias, no ponto de ônibus ou na ante-sala do teatro, fui ouvindo as curiosas opiniões das pessoas sobre as eleições. Ouvi oposição ao Kassab porque a Lei Cidade Limpa (da qual eu sou super fã) acabou com emprego dos postadores de outdoors. Ouvi apoio ao Kassab por ele ser o "anti-Marta", como se fosse uma espécie de dedetizador! Os fãs de Marta todos se renderam à oferta de internet gratuita ou, simplesmente, votam PT aconteça o que acontecer. Alckmin é um "chuchu" todos concordam: bom para a saúde, mas sem gosto. Penso que ele é um gestor competente, mas seu fracasso eleitoral confirma que a política não é a relma dos tecnocratas. Todos anunciam estas eleições terem sido "fim de linha" para ele, mas a política brasileira vive das ressureições mais inacreditáveis então tudo pode acontecer. Aliás, Maluf, o auto-declarado melhor prefeito que SP já teve é um destes fantasmas recorrentes! Será que ele agora desiste e se aposenta nas Ilhas Cayman? Já que vai ser com o meu dinheiro, gostaria que ele fosse logo!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Vozes Globais: Desmatamento e Eleições

Já está no ar minha matéria sobre a relação entre o desmatamento na Amazônia e as eleições de domingo para a Global Voices (vejam do que se trata no post abaixo)
Fez capa no site internacional do Global Voices: http://globalvoicesonline.org/
Em breve sairá a tradução para o portugês no link luso do projeto:
http://pt.globalvoicesonline.org/ aonda há outras mil notícias legais!

O que pensam os blogueiros de Bangladesh?

.....Você já parou para pensar nisso? Gostaria de saber o que preocupa os jovens Angolanos? Zambianos? Coreanos do Norte? Claro que a internet é o meio mais fácil de se fazer isso, mas por onde começar? Como superar as barreiras linguísticas?
.....O projeto GLOBAL VOICES ou VOZES GLOBAIS http://globalvoicesonline.org/ foi criado para fazer ponte entre culturas no âmbito da blogsfera. A idéia central é que o site sirva de guia para blogueiros que queiram se aventurar pelos blogues de outra nações.
.....Em cada país há uma rede de colaboradores voluntários que escrevem artigos (em inglês) sobre o que anda rolando na blogsfera do seu país e daí os artigos são traduzidos para as mais diversas línguas. A versão para os países de língua portuguesa é: http://pt.globalvoicesonline.org/
.....O blog Ressurgência Icamiaba foi recentemente citado numa matéria sobre o Blog de Saramago http://pt.globalvoicesonline.org/2008/09/26/lusosfera-saramago-85-anos-vencedor-do-nobel-blogueiro/ e Icamiaba virou colaboradora para o projeto no Brasil. Em breve, será publicado um artigo cujo tema é a relação entre o desmatamento e as eleições no Brasil!