segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Inspiração do Mês: Lilith (próximo conto!)


6 comentários:

Anônimo disse...

Deusa da noite, que não aceitou a submissão e se tornou símbolo feminista é realmente uma grande inspiração. Estou anciosa para ler esse conto.

Anônimo disse...

Adorei o post! Lilith não parece ser uma antiga versão da Pomba-Gira (os olhos, os labios. o cabelo) na cultura afro-brasileira -‘a mulher fatal’ cigana ou tbm baudelairiana – uma manifestação típica dos arquétipos profundos do inconsciente humano – como Ogum, o “guerreiro heróico”, Oxum, a “grande mãe”, Xangô, o orixá da justiça e das letras, ou os “Exus” - pomba-gira, zé pelintra, ciganas, o Exu-Rei e outros - são tudos representantes dionisíacos da sensualidade, da irreverência e da liberdade indomável, exatamente como os deuses e mitos da antiga religião greco-romana e celta (em que a psicanálise freudiana e a psicologia junguiana identificaram os grandes conflitos e padrões emocionais da psiquê humana/o dor-prazer de chifrudo etc). Assim a estrofe de Rainer Maria Rilke
Pois o belo apenas é
o começo do terrível, que só a custo podemos suportar,
e se tanto o admiramos é porque ele, impassível, desdenha
destruir-nos!

Anônimo disse...

Se vc. se-interessa na Pomba-Gira ou Lilith e Circe vc. deve ler o conto “A Ilha de Circe” de Paul Gregor que desenvolve num Templo de Kimbanda para explorer a sexualidade Freudiana e dionisíaca como o caminho a qualquer revelação mistica – é divertido - :-))) http://blockhaus.editions.free.fr/images/In%E9dits/Gregor/CIRCE.pdf

Anônimo disse...

Há umas referências a Macunaíma em uma outra parte seu blog. Os leitores recordarão que neste livro tbm. há um capítulo dedicado a Exu

Entre golinhos de abrideira, uns de joelhos outros de quatro, todas essas gentes seminuas rezavam em torno da feiticeira pedindo a aparição dum santo. À meia-noite foram lá dentro comer o bode cuja cabeça e patas já estavam lá no pegi, na frente da imagem de Exu que era um tacuru de formiga com três conchas fazendo olhos e boca. O bode fora morto em honra do diabo e salgado com pó de chifre e esporão de galo-de-briga. A mãe-de-santo puxou a comilança com respeito e três pelossinais de atravessado. Toda a gente vendedores bibliófilos pés-rapados acadêmicos banqueiros, todas essas gentes dançando em volta da mesa cantavam: Bamba querê Sai Aruê Mongi gongo Sai Orobô, Êh!...

ôh mungunzá Bom acaçá Vancê nhamanja De pai Guenguê, Êh!...

E conversando pagodeando devoraram o bode consagrado e cada qual buscando o garrafão de pinga dele porque ninguém não podia beber no de outro, todos beberam muita caninha, muita! Macunaíma dava grandes gargalhadas e de repente derrubou vinho na mesa. Era sinal de alegrão pra ele e todos imaginavam que o herói era o predestinado daquela noite santa. Não era não.

Nem bem reza recomeçou se viu pular no meio da saleta uma fêmea obrigando todos a silêncio com o gemido meio choro e puxar canto novo. Foi um tremor em todos e as velas jogaram a sombra de cunha que nem monstro retorcido procanto do teto, era Exu! Ogã pelejava batendo tabaque pra perceber os ritmos doidos do canto novo, canto livre, de notas afobadas cheio de saltos difíceis, êxtase maluco baixinho tremendo de fúria. E a polaca muito pintada na cara, com as alças da combinação arrebentadas estremecia no centro da saleta, já com as gorduras quasi inteiramente nuas. Os peitos dela balangavam batendo nos ombros na cara e depois na barriga, juque! com estrondo. E a ruiva cantando cantando. Afinal a espuminha rolou dos beiços desmanchados, ela deu um grito que diminuiu o tamanhão da noite mais, caiu no santo e ficou dura.

Passou um tempo de silêncio sagrado. Então tia Ciata se levantou da tripeça que uma mazombinha substituiu no sufragante por um banco novo nunca sentado, agora pertencendo pra outra. A mãe-de-terreiro veio vindo veio vindo. Ogã vinha com ela. Todos os outros estavam de pé se achatando nas paredes. Só tia Ciata veio vindo veio vindo e chegou junto do corpo duro da polaca no centro da saleta ali. A feiticeira tirou a roupa ficou nua, só com os colares os braceletes os brincos de contas de prata pingando nos ossos. Foi tirando da cuia que Ogã pegava, o sangue coalhado do bode comido e esfregando a pasta na cabeça da balalaó. Mas quando derramou o efém verdento em riba, a dura se estorceu gemida e o cheiro iodado embebedou o ambiente. Então a mãe-de-santo entoou a reza sagrada de Exu, melopéia monótona.

Quando acabou, a fêmea abriu os olhos, principiou se movendo bem diferente de já-hoje e não era mais fêmea era o cavalo do santo, era Exu. Era Exu, o romãozinho que viera ali com todos pra macumbar.

O par de nuas executava um jongo improvisado e festeiro que ritmavam os estralos dos ossos da tia, os juques dos peitos da gorda e o ogã com batidos chatos. Todos estavam nus também e se esperava a escolha do Filho de Exu pelo grande Cão presente. Jongo temível. Macunaíma fremia de esperança querendo o cariapemba pra pedir uma tunda em Venceslau Pietro Pietra. Não se sabe o que deu nele de sopetão, entrou gingando no meio da sala derrubou Exu e caiu por cima brincando com vitória. E a consagração do Filho de Exu novo era celebrada por licenças de todos e todos se urarizaram em honra do filho novo do icá.

Terminada a cerimônia o diabo foi conduzido pra tripeça, principiando a adoração. Os ladrões os senadores os jecas os negros as senhoras os futebóleres, todos, vinham se rojando por debaixo do pó alaranjando a saleta e depois de batida a cabeça com o lado esquerdo no chão, beijavam os joelhos beijavam todo o corpo do uamoti. A polaca vermelha tremendo rija pigando espuminha da boca em que todos molhavam o mata-piolho pra se benzerem de atravessado, gemia uns roncos regougados meio choro meio gozo e não era polaca mais, era Exu, o jurupari mais macanudo daquela religião.

Depois que todos beijaram adoraram e se benzeram muito, foi a hora dos pedidos e promessas. Um carniceiro pediu pra todos comprarem a carne doente dele e Exu consentiu. Um fazendeiro pediu pra não ter mais saúva nem maleita no sítio dele e Exu se riu falando que isso não consentia não. Um namorista pediu pra pequena dele conseguir o lugar de professora municipal pra casarem e Exu consentiu. Um médico fez um discurso pedindo pra escrever com muita elegância a fala portuguesa e Exu não consentiu. Assim. Afinal veio a vez de Macunaíma o filho novo do fute. E Macunaíma falou: — Venho pedir pra meu pai por causa que estou muito contrariado.

— Como se chama? perguntou Exu.
— Macunaíma, o herói.

Estas palavras são tão similares às palavras de Shakespeare:

- Sou Hamlet, sim, o Dinamarquês… Amava Ofélia; quarenta mil irmãos não poderiam, com todo o seu amor multiplicado, perfazer o total do que eu lhe tinha.
Antes, estêve como Macunaíma mas agora aceitou de repente seu destino inevitável.
-De forma alguma; desafio os presságios. Há uma especial Providência na queda de um pardal. Se tem de ser já, não será depois; se não for depois, é que vai ser agora; se não for agora, é que poderá ser mais tarde. O principal é estarmos preparados, Uma vez que ninguém sabe o que deixa, que importa que seja logo? que seja!

Deixe-nos toda a esperança que o povo de Brasil pode combinar um pouco de Hamlet com Macunaima.

Anônimo disse...

Os antropólogos dir-lhe-iam que estes rituais baseados nos mitos dos deuses e da deusa são na realidade uma desaprovação da conformidade burguês da sociedade e dos burguêses. São uma maneira em que os povos – os negros, as mulheres, os Exus e Pomba-Giras marginalizados expressam sua revolta. Nana e uma verdadeira Pomba-Gira na novela de Zola. Ela esclarece que o espírito de sua rebelião sexual e pessoal é, na raiz, uma hostilidade à sociedade burguês confortável e nos homens brancos fracos que a decepcionaram. Seu enlace da impotência sexual à injustiça da sociedade burguês é desobstruído nesta passagem. "! Eu estou menos sujo do que você – você nada mais que uma porca! " grita. O cliente é folheado no uniforme magnífico de cortesão real com sua chave simbólica e ela tem uma idéia extremamente safadinha em respeito do que fazer com aquele e como o retrocede e o monta ela está fazendo isto para destruir a sociedade burguês e "a majestade do corte imperial”.. como Amy Winehouse actualmente!

- Puis, là, dans cette chambre, un vertige le grisait. Il oubliait tout, la cohue des mâles qui la traversaient, le deuil qui en fermait la porte. Dehors, parfois, au grand air de la rue, il pleurait de honte et de révolte, en jurant de ne jamais y rentrer. Et, dès que la portière retombait, il était repris, il se sentait fondre à la tiédeur de la pièce, la chair pénétrée d'un parfum, envahie d'un désir voluptueux d'anéantissement. Lui, dévot, habitué aux extases des chapelles riches, retrouvait exactement ses sensations de croyant, lorsque, agenouillé sous un vitrail, il succombait à l'ivresse des orgues et des encensoirs. La femme le possédait avec le despotisme jaloux d'un Dieu de colère, le terrifiant, lui donnant des secondes de joie aiguës comme des spasmes, pour des heures d'affreux tourments, des visions d'enfer et d'éternels supplices. C'étaient les mêmes balbutiements, les mêmes prières et les mêmes désespoirs, surtout les mêmes humilités d'une créature maudite, écrasée sous la boue de son origine. Ses désirs d'homme, ses besoins d'une âme, se confondaient, semblaient monter, du fond obscur de son être, ainsi qu'un seul épanouissement du tronc de la vie. Il s'abandonnait à la force de l'amour et de la foi, dont le double levier soulève le monde. Et toujours, malgré les luttes de sa raison, cette chambre de Nana le frappait de folie, il disparaissait en grelottant dans la toute-puissance du sexe, comme il s'évanouissait devant l'inconnu du vaste ciel.

Alors, quand elle le sentit si humble, Nana eut le triomphe tyrannique. Elle apportait d'instinct la rage d'avilir. Il ne lui suffisait pas de détruire les choses, elle les salissait. Ses mains si fines laissaient des traces abominables, décomposaient d'elles-mêmes tout ce qu'elles avaient cassé. Et lui, imbécile, se prêtait à ce jeu, avec le vague souvenir des saints dévorés de poux et qui mangeaient leurs excréments. Lorsqu'elle le tenait dans sa chambre, les portes closes, elle se donnait le régal de l'infamie de l'homme. D'abord, ils avaient plaisanté, elle lui allongeait de légères tapes, lui imposait des volontés drôles, le faisait zézayer comme un enfant, répéter des fins de phrase.

-- Dis comme moi: «... et zut! Coco s'en fiche!»

Il se montrait docile jusqu'à reproduire son accent.

-- «... et zut! Coco s'en fiche!»

Ou bien elle faisait l'ours, à quatre pattes sur ses fourrures, en chemise, tournant avec des grognements, comme si elle avait voulu le dévorer; et même elle lui mordillait les mollets, pour rire. Puis, se relevant:

-- A toi, fais un peu... Je parie que tu ne fais pas l'ours comme moi.

C'était encore charmant. Elle l'amusait en ours, avec sa peau blanche et sa crinière de poils roux. Il riait, il se mettait aussi à quatre pattes, grognait, lui mordait les mollets, pendant qu'elle se sauvait, en affectant des mines d'effroi.

-- Sommes-nous bêtes, hein? finissait-elle par dire. Tu n'as pas idée comme tu es laid, mon chat! Ah bien! si on te voyait, aux Tuileries!

Mais ces petits jeux se gâtèrent bientôt. Ce ne fut pas cruauté chez elle, car elle demeurait bonne fille; ce fut comme un vent de démence qui passa et grandit peu à peu dans la chambre close. Une luxure les détraquait, les jetait aux imaginations délirantes de la chair. Les anciennes épouvantes dévotes de leur nuit d'insomnie tournaient maintenant en une soif de bestialité, une fureur de se mettre à quatre pattes, de grogner et de mordre. Puis, un jour, comme il faisait l'ours, elle le poussa si rudement, qu'il tomba contre un meuble; et elle éclata d'un rire involontaire, en lui voyant une bosse au front. Dès lors, mise en goût par son essai sur la Faloise, elle le traita en animal, le fouailla, le poursuivit à coups de pied.

-- Hue donc! hue donc!... Tu es le cheval... Dia, hue! sale rosse, veux-tu marcher!

D'autres fois, il était un chien. Elle lui jetait son mouchoir parfumé au bout de la pièce, et il devait courir le ramasser avec les dents, en se traînant sur les mains et les genoux.

-- Rapporte, César!... Attends, je vais te régaler, si tu flânes!... Très bien, César! obéissant! gentil!... Fais le beau!

Et lui aimait sa bassesse, goûtait la jouissance d'être une brute. Il aspirait encore à descendre, il criait:

-- Tape plus fort... Hou! hou! je suis enragé, tape donc!

Elle fut prise d'un caprice, elle exigea qu'il vînt un soir vêtu de son grand costume de chambellan. Alors, ce furent des rires, des moqueries, quand elle l'eut, dans son apparat, avec l'épée, le chapeau, la culotte blanche, le frac de drap rouge chamarré d'or, portant la clef symbolique pendue sur la basque gauche. Cette clef surtout l'égayait, la lançait à une fantaisie folle d'explications ordurières. Riant toujours, emportée par l'irrespect des grandeurs, par la joie de l'avilir sous la pompe officielle de ce costume, elle le secoua, le pinça, en lui jetant des: «Eh! va donc, chambellan!» qu'elle accompagna enfin de longs coups de pied dans le derrière; et, ces coups de pied, elle les allongeait de si bon coeur dans les Tuileries, dans la majesté de la cour impériale, trônant au sommet, sur la peur et l'aplatissement de tous. Voilà ce qu'elle pensait de la société! C'était sa revanche, une rancune inconsciente de famille, léguée avec le sang. Puis, le chambellan déshabillé, l'habit étalé par terre, elle lui cria de sauter, et il sauta; elle lui cria de cracher, et il cracha; elle lui cria de marcher sur l'or, sur les aigles, sur les décorations, et il marcha. Patatras! il n'y avait plus rien, tout s'effondrait. Elle cassait un chambellan comme elle cassait un flacon ou un drageoir, et elle en faisait une ordure, un tas de boue au coin d'une borne.

...e assim a verdade emocional dos pobres substitui a moralidade convencional!

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel