segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O dia seguinte...

....Ok, não dá para ficar quieta. É dia 1 de Novembro, todo mundo sabe o que aconteceu ontem. Só um copo de vinho mais cedo do que o usual para elevar o meu estado de espírito ou, ao menos, me levar até o teclado do computador. Não, eu não votei com convicção...

....Minha candidata no primeiro turno foi Marina Silva e, depois disso, passei o mês tentando me decidir em quem votar. Nunca fui petista e nem psdbista. Tentei, primeiramente, minimizar a emoção...o fato de Dilma ter se tornado a mímese de Lula, adquirido seus gestos e até um sotaque esporadicamente nordestino, sendo que ela é mineira e viveu boa parte da vida no Rio Grande do Sul...também, a arrogância nata de Serra e sua convicção absoluta de que ele é o melhor gestor da Terra e que isso o entitula a votos (esquecendo-se que ser Presidente não é o mesmo que síndico). Enfim, busquei votar de forma objetiva, focando no que eu acho que seria melhor para o Brasil.

....Foi triste. Sim, eu respeito a política social de Lula, apesar de considerá-la um passo intermediário. Resolver o problema da miséria absoluta é um primeiro grande passo para remover uma parte dessas pessoas da condição de dependentes do governo. No mais, acho que o Brasil foi muito bem durante esses 8 anos APESAR do governo Lula. Ou seja, o governo petista não interviu no mercado, a economia fluía bem e, precisamente por isso, a coisa foi bem. É o neo-liberalismo petista.

....O meu coração dói ao pensar que o Centro-oeste está se tornando o celeiro da China e o Brasil voltou a ocupar a ser um exportador de matéria prima (soja e outros grãos), em detrimento das florestas. Apesar dos avanços educacionais e tecnológicos das últimas décadas, nossa vantagem comparativa no mundo volta a ser termos terras férteis em abundância. O pré-sal, quem sabe, nos ajudará a sobreviver APESAR disso. O Governo Lula é sortudo. Deu certo APESAR do que não fez, APESAR de inchar o Estado brasileiro com seus militantes corporativistas e preconceituosos, APESAR de achar que os meios justificam os fins e praticar uma corrupção vergonhosa que é aceita por muitos “porque todo mundo faz”...enfim, a tragédia ética do PT é notória, acho que não preciso revivê-la aqui.

....Talvez porque Dilma ganhou as eleições é que eu estou mais sensível a ouvir exaltações de que elegemos a “primeira mulher presidente do Brasil” Ela não é mais do que Cristina Kirschner, a neo-Evita da Argentina. A eleição de Dilma, no que diz respeito à questão de gênero, reforça o fato de na América Latina as mulheres só se elegerem para cargos importantes quando são esposas ou filhas de algum político famoso. As capas dos jornais hoje anunciam a “Dilma eleita, vitória de Lula” – a triste verdade é esta.

....Outra coisa insuportável é ouvir dizer que Dilma é de esquerda e Serra é de direita. Fico me lembrando da minha viagem recente ao Maranhão, o Estado mais pobre do Brasil, e os outdoors espalhados por São Luis com imagens de Dilma abraçada a Roseana Sarney, ícone do coronelismo. O debate sobre privatização, epítome de esquerdismo e direitismo que deu-se durante as eleições, foi simplesmente idiota. Nem o PT e nem o PSDB deixaram de privatizar nas suas gestões. Após a queda do muro de Berlin, já passados vinte anos, não existe mais a opção de não privatizar alguns setores da economia. O que existe é a opção de privatizar alguns setores e outros não, de acordo com sua importância estratégica e o interesse do setor privado, além das diversas formas de privatização (concessões, PPS, etc.). Mas, claro, isso foi dado como complexo demais para se discutir com o povo brasileiro. Os vários debates televisionados focaram na questão: “eles privatizam e nós não”. Somos burros, é o que eles queriam nos dizer.

....Eu votei em Serra sem convicção, mas votei. Não gosto da personalidade dele e achei sua campanha fraca, obtusa e pouco ousada. Votar nele significou para mim expressar que eu não acho “engraçadinha” a corrupção petista e que eu não acho legal votar num fantoche de outra pessoa. Serra, por bem ou por mal, tem uma trajetória política eleitoral própria. Pela primeira vez, me solidarizei com a figura Fernando Henrique Cardoso, oculta da na proposta do PSDB. Concordo com ele que Lula foi e continua sendo infantil ao insistir em falar de “herança maldita”. Sua era ficou marcada pelo impacto social negativo, mas um país endividado após décadas de esbanjamento desenvolvimentista não tinha alterantiva. Nenhum outro país na América Latina fez diferente (exceto Cuba) e os países que se recusaram a adotar as medidas impostas pelo FMI na década de 90, como a Guiné na Africa (alguém já ouviu falar? pois é...), estão entre os mais pobres do mundo hoje, com um índice de mortalidade infantil vinte vezes maior do que o Brasil, por exemplo.

....Finalmente, sobre Marina Silva. Me decepcionei. Votei nela com entusiasmo no primeiro turno, mas acho que sua opção pela “neutralidade” (isso existe?) foi indicativa de personalismo e falta de visão política ou falta de disposição para arriscar-se e tornar-se relevante politicamente. No fundo, sua campanha ficou como um louvor à sua figura e ela absteve-se da difícil decisão que eu e tantos outros brasileiros tiveram que enfrentar ontem na urna: se eu sou uma pessoa que valoriza a ética e o desenvolvimento sustentável, em quem eu devo votar: Dilma ou Serra? Marina se absteve de nos inspirar com o conhecimento interno do PT e PV/PSDB que ela tinha. Marina me decepcionou.

....Enfim, vou tomar mais um vinho para afogar as mágoas de ter votado em quem eu não acreditava e ter que viver quatro anos com Dilma no poder...ao menos, não sou uma alienada comemorando na Paulista a vitória do fantoche.

....Amanhã, vou me embebedar novamente para esquecer o quanto a minha geração AINDA é tão irrelevante na política brasileira. Não conseguimos ter um candidato em quem acreditarmos. Somos ainda sombra e massa de manobra das decisões da geração de 70, a qual Dilma e Serra pertencem.

5 comentários:

Adriana Cubas disse...

Perfeito Dé! Não poderia ser melhor suas considerações. Me senti assim tb ontem... e estou me sentindo muito vazia hj, apreensiva com os novos tempos que viram... beijos querida, saudades!!!

Cidadã do Mundo disse...

Oi amiga, confesso que acordei com o mesmo sentimento e até o dia amanheceu estranho, cinzento, nebuloso...e olha que aqui faz muito sol. Muito pertinente as suas palavras, nós que vivemos no centro-oeste estamos a mercê dos interesses de cada grupo. Pois vão deburrar as florestas por uma causa justa: a comida do planeta, precisam de usinas para energia do planeta e assim vai. A Marina disse que quem a derrubou foi o Blairo Maggi, o maior produtor de soja do mundo. E ela fez o que para impedí-lo? É o poder, o Lulinha está comprando horrores de terras por aqui, me diga qual a renda deste cidadão? Estou de luto. Beijos...saudades.

Debora Proença disse...

Amiga, tomei um outro caminho - votei na Dilma. Sim. Votei.
No primeiro turno votei na Marina, mais como um ideal a ser perseguido. Sabia das reais condições.
Penso que tudo isso - a eleição 2010 - parece muito como sentar à mesa, e ver os pratos que foram servidos; alguns, conhecidos que voce decididamente não gosta, e outros, feitos com ingredientes familiares, mas a receita é nova, portanto, você não sabe que gosto resultou... "
O fato é: "isto é posto", e é o que temos para comer!!!
O Serra me pareceu um prato passado com algumas alfacinhas novas em cima. Não deu para sequer pensar.
A Dilma, prato conhecido, sim, com espinhos, mas estava bem preparado.
Me servi deste.
Vamos ver a digestão...
beijos
Deh

Fabiana Nelli disse...

Minha querida tudo é uma questão de ponto de vista. A ausencia de pessoas boas envolvidas no processo é infinitamente menor que as más, por isso que as mudanças são a longíssimo prazo. Vamos ver o que virá. Estou muito a fim de passar um fim de semana por aí, te aviso antes. Venham nos visitar tb. Sábado tomamos um vinho na Chapada...beijo grande...Fabi

Fabiana Nelli disse...

Dé na verdade é a presença de pessoas boas...faltou eu dar uma lidinha antes...beijim