São Paulo, 8 de Maio de 2010
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.....No dia em que Nicolau e eu nos encontramos pela primeira vez, eu o aguardava no café da Cinemateca, quando ele entrou no salão com um emaranhado de chaves e fios enroscados na mão. Olhou para mim, seus olhos lindos brilharam ao me ver, ele veio me abraçar e sentou-se ao meu lado, mas logo voltou-se para o nó em mãos. Estava preocupado. Disse assim, "Só um instante, que eu preciso resolver isso." Eu bati o olho naquilo e me pareceu ser algo de fácil solução. Detive-me por instante por supersticao, "E se eu não conseguir desatar o nó...será um mal sinal para nós?" Arrisquei, "Posso tentar?" Ele confiou-me o molho de chaves e em alguns segundos eu desfiz o nó. Aliviado, ele alegrou-se e demos início à primeira de muitas noites memoráveis que viveriamos. O horario do filme veio e passou e nos ficamos ali transformando nós em nós durante horas até os donos do bar apagarem as luzes e virem sussurrar desculpas, que nao queriam nos incomodar, que podíamos ficar ali o quanto quiséssemos, conspirando pela nossa união, assim como vocês o fazem hoje aqui.
.....Escolhi recordar este pequeno incidente porque ele contém uma simbologia quase completa do nosso amor. Há nele: o encontro e a esperança, os nós da vida, a vontade que temos de desembaraçá-los, a coragem de arriscar, a disposição de ajudar e de ser ajudado, o milagre de quando tudo dá certo e a alegria do lazer compartilhado. Desde este dia, Nicolau e eu nunca nos separamos, talvez por termos vivido aquele momento embrionário que nos fez crer que poderíamos juntos vencer obstáculos e sermos felizes juntos. Eramos dois corações maduros, que já tinham se batido e se debatido muito na vida. Nos casamos pela primeira vez muito jovens, nos separamos cedo, nos entregamos a paixões se pé e nem cabeça e um de nós até já arriscou-se em outros cinco casamentos não oficiais! Pensar que depois de tudo isso, nasceria novamente...bobo e desengonçado, um amor quase adolescente - indecente e incandescente - de trocar o dia pela noite, de carregar no colo, um amor do chefe do Nicolau virar para ele prostrado na frente do computador no meio da tarde e perguntar, "Cara, o que está acontecendo? Você nem lava mais o cabelo?"
.....Queria recordar junto com voces o sentimento que eu carregava comigo naquela epoca e deixei registrado no meu diario, quando estava a no avião rumo à Rússia, algumas semanas após de nos conhecermos: "Caminharei pelo mundo em busca de sentido, mas de amor não mais. Adoro este menino, tudo o que ele é e não é, naquilo que ele é livro e aprisionado, anjo caído e reerguido, o seu apartamento. Naquilo que ele é carência e totem de amor, orfandade e paixão. Naquilo que é coração e cevada, lágrimas e cerveja, a tatuagem de dragao no seu antebraço. Naquilo que ele é cultura e desperdício, letras e trabalho. Naquilo que ele é desalinhado e estilo, seus cabelos despojadamente descabelados, de sua forma livre viaduto a vida. Ele esta sempre unindo opostos e agridoces, como eu também."
.....Eu poderia contar cada descoberta que fiz sobre Nicolau nos meses que se seguiram. De suas forças e fraquezas, de sua dignidade e suas bobeiras, suas coragens e seus medos. Sinceramente, eu não consigo pensar numa combinacao mais charmosa e inteligente e criativa e ousada do que a dessa figurinha que hoje se tornou o meu marido. Mesmo a vida tendo sido áspera deste muito cedo com ele, ele nunca deixa de sorrir, de amar as flores e de se deixar soprar pelas ruas com entusiasmo.Assim, o encanto foi se firmando.
.....Certa vez, estávamos tomando uma cerveja num boteco na Paulista e vimos um casal totalmente inusitado almocando ao lado. Ele era gordinho, careca e afoito. Ela entao tinha um olho virado para a esquerda e outro virado para a direita! Em contraste a essa desarmonia toda, seus garfos e facas movimentavam-se como sinfonia, ambos recusavam simultaneamente a sobremesa e aceitavam o cafézinho, ela lembrando que o dele era pingado e ele que o dela era sem açucar. Eles eram fascinantes porque tinham expostas todas as exentricidades e estranhezas que muitos de nós sentimos por dentro e, mesmo assim, nitidamente tinham tido a grandeza de passarem uma vida juntos...em meio a tantas fragilidades, desafiar e vencer a pré-destinação da solidão. Neles ficava muito claro como isso se faz de forma profundamente simples - propondo-se a ser e se deixar ser o outro para alguém. O amor é simples.
.....Conto isso para vocês, porque foi quando eu vi-os que senti pela primeira vez a vontade de um dia estar aqui, no nosso casamento, ao lado de todos vocês, selando o fato de que o nosso encontro, a nossa paixão e o nosso amor, nos deu forças para tentar a travessia de uma vida inteira. Senti que eu também queria ser um casalzinho estranho, ao lado de Nicolau. Virar "uva passa" juntinho, como ele gosta de dizer.
.....Por fim, quero agradecer aos que estao aqui esta noite, de corpo presente ou em espírito. Especialmente, quer agradecer aos meus pais por tudo o que sempre foram e fizeram para mim, por acolherem o Nicolau e apoiarem o nosso casamento. Coletivamente, quero agradecer aos nossos pais, por tudo, porque nos seus tornos nos moldamos e é deste jeitinho que a gente se ama e vamos seguir a nossa história. Gostaria de prestar uma homenagem à minha sogra Pauline, que infelizmente eu não pude conhecer, mas que pela forma como ela reluz no coração de Nicolau deve ter sido uma pessoa iluminada e é como luz ela está sempre presente em nossas vidas. Nesta noite, sentiremos também a falta do meu irmão Clóvis, mas estamos felizes de tê-lo representado pela bela família que ele constituiu. Aos amigos, todos os que estão aqui, obrigada por tornarem a nossa vida alegre e repleta de carinho, cada um de vocês foi muito importante para chegarmos até aqui e espero que continuemos sempre juntos.
.....Escolhi recordar este pequeno incidente porque ele contém uma simbologia quase completa do nosso amor. Há nele: o encontro e a esperança, os nós da vida, a vontade que temos de desembaraçá-los, a coragem de arriscar, a disposição de ajudar e de ser ajudado, o milagre de quando tudo dá certo e a alegria do lazer compartilhado. Desde este dia, Nicolau e eu nunca nos separamos, talvez por termos vivido aquele momento embrionário que nos fez crer que poderíamos juntos vencer obstáculos e sermos felizes juntos. Eramos dois corações maduros, que já tinham se batido e se debatido muito na vida. Nos casamos pela primeira vez muito jovens, nos separamos cedo, nos entregamos a paixões se pé e nem cabeça e um de nós até já arriscou-se em outros cinco casamentos não oficiais! Pensar que depois de tudo isso, nasceria novamente...bobo e desengonçado, um amor quase adolescente - indecente e incandescente - de trocar o dia pela noite, de carregar no colo, um amor do chefe do Nicolau virar para ele prostrado na frente do computador no meio da tarde e perguntar, "Cara, o que está acontecendo? Você nem lava mais o cabelo?"
.....Queria recordar junto com voces o sentimento que eu carregava comigo naquela epoca e deixei registrado no meu diario, quando estava a no avião rumo à Rússia, algumas semanas após de nos conhecermos: "Caminharei pelo mundo em busca de sentido, mas de amor não mais. Adoro este menino, tudo o que ele é e não é, naquilo que ele é livro e aprisionado, anjo caído e reerguido, o seu apartamento. Naquilo que ele é carência e totem de amor, orfandade e paixão. Naquilo que é coração e cevada, lágrimas e cerveja, a tatuagem de dragao no seu antebraço. Naquilo que ele é cultura e desperdício, letras e trabalho. Naquilo que ele é desalinhado e estilo, seus cabelos despojadamente descabelados, de sua forma livre viaduto a vida. Ele esta sempre unindo opostos e agridoces, como eu também."
.....Eu poderia contar cada descoberta que fiz sobre Nicolau nos meses que se seguiram. De suas forças e fraquezas, de sua dignidade e suas bobeiras, suas coragens e seus medos. Sinceramente, eu não consigo pensar numa combinacao mais charmosa e inteligente e criativa e ousada do que a dessa figurinha que hoje se tornou o meu marido. Mesmo a vida tendo sido áspera deste muito cedo com ele, ele nunca deixa de sorrir, de amar as flores e de se deixar soprar pelas ruas com entusiasmo.Assim, o encanto foi se firmando.
.....Certa vez, estávamos tomando uma cerveja num boteco na Paulista e vimos um casal totalmente inusitado almocando ao lado. Ele era gordinho, careca e afoito. Ela entao tinha um olho virado para a esquerda e outro virado para a direita! Em contraste a essa desarmonia toda, seus garfos e facas movimentavam-se como sinfonia, ambos recusavam simultaneamente a sobremesa e aceitavam o cafézinho, ela lembrando que o dele era pingado e ele que o dela era sem açucar. Eles eram fascinantes porque tinham expostas todas as exentricidades e estranhezas que muitos de nós sentimos por dentro e, mesmo assim, nitidamente tinham tido a grandeza de passarem uma vida juntos...em meio a tantas fragilidades, desafiar e vencer a pré-destinação da solidão. Neles ficava muito claro como isso se faz de forma profundamente simples - propondo-se a ser e se deixar ser o outro para alguém. O amor é simples.
.....Conto isso para vocês, porque foi quando eu vi-os que senti pela primeira vez a vontade de um dia estar aqui, no nosso casamento, ao lado de todos vocês, selando o fato de que o nosso encontro, a nossa paixão e o nosso amor, nos deu forças para tentar a travessia de uma vida inteira. Senti que eu também queria ser um casalzinho estranho, ao lado de Nicolau. Virar "uva passa" juntinho, como ele gosta de dizer.
.....Por fim, quero agradecer aos que estao aqui esta noite, de corpo presente ou em espírito. Especialmente, quer agradecer aos meus pais por tudo o que sempre foram e fizeram para mim, por acolherem o Nicolau e apoiarem o nosso casamento. Coletivamente, quero agradecer aos nossos pais, por tudo, porque nos seus tornos nos moldamos e é deste jeitinho que a gente se ama e vamos seguir a nossa história. Gostaria de prestar uma homenagem à minha sogra Pauline, que infelizmente eu não pude conhecer, mas que pela forma como ela reluz no coração de Nicolau deve ter sido uma pessoa iluminada e é como luz ela está sempre presente em nossas vidas. Nesta noite, sentiremos também a falta do meu irmão Clóvis, mas estamos felizes de tê-lo representado pela bela família que ele constituiu. Aos amigos, todos os que estão aqui, obrigada por tornarem a nossa vida alegre e repleta de carinho, cada um de vocês foi muito importante para chegarmos até aqui e espero que continuemos sempre juntos.
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Deborah Kietzmann Goldemberg
Um comentário:
Débora! Lindo demais, não estava lá no momento da leitura, fiquei encantada com o texto, bela forma de compartilhar coisas lindas. Felicidades pra vocês, que formam um casal lindíssimo!
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