terça-feira, 29 de julho de 2008

O amor inesquecível, por Mário de Andrade.

"Então pensou muito sério na dona da muirquitã, na briguenta, na diaba gostosa que batera tanto nele, Ci, Ah! Ci, Mãe do Mato, marvada que tornara-se inesquecível porque fizera ele dormir na rede tecida com os cabelos dela!...
Ergueu os braços pro alto assustando os legornes e rezou pro Pai do Amor:
Rudá! Rudá!
Tu que está no céu
E mandas das chuvas.
Rudá! faz com que minha amada
Por mais companheiros que arranje
Acho que todos são frouxos!
Assopra nessa marvada
Sodades do seu marvado!
Faz com que ela se lembre de mim amanhã
Quando o Sol for-se embora no poente!..."

Como viveram: Ci, Mãe do Mato, e Macunaíma, o herói!

"O herói vivia sossegado...
De noite Ci chegava rescendendo resina de pau, sangrando das brigas e trepava da rede que ela mesma tecera com fios de cabelo. Os dois brincavam e depois ficavam rindo um pro outro.
Ficavam rindo longo tempo, bem juntos. Ci aromava tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza.
- Puxa! como você cheira, benzinho?
que ele murmuirava gozado. E escancarava as narinas mais. Vinha uma um tonteira tão macota que o sono principiava pingando das pálpebras dele. Porém a Mãe do Mato inda não estava satisfeita não e com um jetio de rede que enlaçava os dois convidava o companheiro para mais brinquedo. Morto de soneira, infernizado, Macunaíma brincava para não desmentir a fama só porém quando Ci queria rir com ele de satisfação:
- Ai! que preguiça!..."

Como Macunaíma virou Imperador do Mato-Virgem!

"Macunaíma escoteiro topou com uma cunhã dormindo. Era Ci, Mãe do Mato. Logo viu pleo peito destro seco dela, que a moça fazia parte dessa tribo de mulheres sozinhas parando lá nas praias da lagoa Espelho da Lua, coada pelo Nhamundá. A cunhã era lindo com o corpo chupado pelos vícios, colorido como jenipapo.
O herói se atirou por cima dela para bincar. Ci não queria. Fez lança de flecha tridente enquanto Macunaíma puxava de pajeú. Foi um pega tremendo e por debaixo da copada rebovam os berros dos briguentos diminuindo de medo os corpos dos passarinhos. O herói apanhava. Recebera já um murro de fazer sangu no nariz e um pau fundo de txara no rabo. A icamiaba não tinha nem um arranhãozinho e cada gesto que fazia era mais sangue no corpo do herói soltando berros formidandos que diminuíram de medo os corpos dos passarinhos. Afinal se vendo nas amarelas porque não podia mesmo com a icamiaba, o herói deitou fugindo chamando pelos manos:
- Me acudam que sinão eu mato! me acudam sinão eu mato!
Os manos vieram e agarraram Ci. Maanape trançou os braços dela por detrás enquanto Jiguê com a murucu lhe dava uma porrada no coco. E a icamiaba caiu sem auxílio nas samambaias da serrapilheuira. Quando ficou bem imóvel, Macunaíma se apoximou e brincou com a Mãe do Mato. Vieram então muitas jandaias, muitas araras vermelhas tuins coricas periquitos, muitos papagaios saudar Macunaíma, o novo Imperador do Mato-Virgem."

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Participem da FLAP!

Saí da Sibéria, mas faço sucesso na Russia!

Ok, parem o mundo, duas coisas incríveis para se falar hoje:
Primeiro que, me rendendo às pressões de todas as partes, eu finalmente coloquei internet BANDA LARGA em casa. Ou seja, meus dias de internet moderada, na lan house da esquina, chegaram ao fim! Ok, vocês venceram, internet em casa!!! Mas, prometo que se eu começar a obsessionar eu tiro!
Segunda coisa, recentemente coloquei o Google Analytics para monitorar a frequencia do meu blog e, pasmem, eu sou um sucesso na Russia! Isso mesmo, depois de Terra Brasilis e Portugual (português-fonos), a maior incidência de visitas ao meu blog dá-se na Russia! Penso que isso deve ocorrer por eu ser "a última pessoa no mundo a ler Plekhanov" (como disse Giulio, mi querido amici italiano, refugiado em Washington DC, sem comer pasta faz alguns anos, pois se recusa a fazê-lo fora da Italia!) ou então é porque quando a gente gosta de uma coisa a gente atrai essa coisa e como eu ADORO a Russia e vou para lá este ano, acho que as vibrações nos atraem. À propôs, estou dormindo essas noites Anna Akhmatova na minha cama!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Torrencial

Este poema acaba de receber Menção Honrosa no 6º Concurso Guemanisse de Contos e Poesias / 2008 (Categoria Poesias): http://www.guemanisse.com.br/content/view/125/1/

JorRava no mUnDo um fLuXo
de gRanIzo y
LaMaçeiRa y
pEdreGulhos y
CacOs de viDro y
arAme fArPado y
PreGos y
tRoncOs paRtiDos

incandescente magma

nós dois
(encapsulados)
num abraço

nem notamos!

Lady Siri of Itamaracá

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O Brilho de Heath

Heath Ledger, no papel do Curinga, está maior do que a tela, maior do que a vida, talvez porque já estivesse durante as filmagens quase "em outra dimensão". Já havia expandido alguns limites? Encarar a loucura de frente não deve ter sido fácil, ser assim tão generoso de si mesmo para com os outros. Que grande dom! Que sua alma descanse em paz, tão jovem e brilhante ator.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Alg(m)as

Na noite, no beco,
como no mar, no fundo.
(Sobre)vivem as algas penadas,
como nossas almas marinhas.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Paz Verde


Há poesia que é feita sem letras
Há poetas que escalam montanhas
Há açoes que falam mais do que palavras
Hoje
Sem falta
Seja um poeta da paz verde

Visite o site da campanha Meia Amazônia Não do Greenpeace!

Para onde vai a floresta?

Meu armário? Minha mesa? Minhas portas? Meus enfeites de mesa? Meus pratos de salada? Minhas estantes? As solas dos meus sapatos? Minhas cadeiras de balanço? Fazer carvão para fazer ferro? Meu carro? Meus talheres? Meus abajoures? Minhas maçanetas? Minhas panelas? Meus anéis? Meu computador?
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A floresta não queima por acaso.
Ela queima porque todos nós compramos os bens derivados dela.
Esteja atento!
Pratique o consumo consciente, sempre que possível.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Papel do Indivíduo na História I:

Trecho extraído do texto original de Plekhanov -
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.....Os historiadores acostumaram-se a prestar excessiva atenção às manifestações brilhantes, ruidosas e efêmeras da atividade humana, aos grandes acontecimentos e aos grandes homens, em lugar de insistir sobre os grandes e lentos movimentos das instituições, das condições econômicas e sociais, que são a parte verdadeiramente interessante e permanente da evolução humana.
.....Os acontecimentos e as personagens verdadeiramente importantes são principalmente sinais e símbolos da diferentes etapas dessa evolução, mas a maioria dos acontecimentos chamados históricos são, para a verdadeira História, o que, para o movimento profundo e constante das marés, são as ondas que surgem à superfície do mar, brilham por um momento com sua luz viva para logo quebrarem-se na costa arenosa, desaparecendo sem deixar vestígio.
.....Os indivíduos, graças a determinadas particularidades de seu caráter (ou talento), podem influir nos destinos da sociedade...mas, tanto a própria possibilidades dessa influência (ou talento), quanto suas proporções, são determinadas pela organização da sociedade, pela correlação de forças que nela existe.
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Este trecho de Plekhanov, pode provocar uma reflexão interessantíssima sobre a eleição de Fernando Collor de Mello à Presidência do Brasil. Será que Collor foi determinante para o Brasil dos anos 90? E seu impeachment alguns anos depois? De acordo com Plekhanov, Collor de Mello só foi possível porque havia ali condições históricas (econômicas e sociais) que proporcionaram a sua eleição e a implantação de sua política econômica. Quanto tempo mais teria sido possível, para qualquer Presidente, por exemplo, manter o protecionismo brasileiro ou evitar as privatizações? Collor de Mello foi um símbolo desta etapa do desenvolvimento brasileiro, mas, se não tivesse sido ele o eleito, outro (Lula?) teria cumprido a mesma função social, pois era ela que a maré daquele tempo determinava. Seria isso?

O Papel do Indivíduo História, II:

Trecho extraído do texto original de Plekhanov -
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.....Quando determinada situação social coloca ante seus representantes espirituais certas tarefas, estas atraem a atenção dos espíritos eminentes até que estes as resolvam. Os talentos aparecem, sempre e em toda parte, onde existem condições sociais favoráveis para o seu desenvolvimento.
.....Isso significa que todo talento que se manifestou efetivamente, isto é , todo talento convertido numa força social é fruto das relações sociais. Se isso é assim, compreende-se porque os homens (e mulheres) de talento, só podem variar o aspecto individual e não a orientação geral dos acontecimentos; eles próprios só existem graças a essa orientação. Se Leonardo da Vinci não tivesse nascido, a arte pictórica italiana seria menos perfeita, mas a tendência geral do seu desenvolvimento na época do Renascimento não teria sido diferente. Essa tendência não foi criada por Leonardo da Vinci, ele foi apenas um de seus melhores representantes (que em geral, formam uma escola de discípulos).
.....Como a profundidade de qualquer corrente dada, tanto na literatura quanto na arte, é determinada pela importância que tem para a classe ou camada social cujos gostos expressa, bem como pelo papel social desta classe ou camada, aqui também, tudo depende, em última instância, do curso do desenvolvimento social e da correlação das forças sociais.

Este trecho de Plekhanov faz pensar em qual situação social atrai os talentos literários da atualidade. Os escritores da periferia, a ascenção dos escritores da Periferia de São Paulo, da Cooperifa, do Sarau do Binho etc, faz pensar que claramente há ali naquele núcleo uma demanda por talentos, há uma situação social que atraiu e inspirou poetas (e alguns músicos e proseadores) para representá-la, para resolvê-la. Mano Brown, Ferrez, Sérgio Vaz, Binho, qual deles é o seu ícone? Qual deles fica para a história? Qual a importância que esta corrente tem para as camadas sociais quenão à qual eles falam? Para quem, exatamente, eles falam? Alguém mais, as outras classes, os notam? Eles incomodam?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A felicidade, ela existe!!!

Fazia tanto tempo, tanto tempo. Eu acho que havia até me esquecido...que uma vida feliz, ela existe! Que algumas tardes no mundo são bordadas por sombras de trepadeiras enfeitadas com jacintos e debaixo delas correm as crianças abençoadas com tudo o que a vida pode proporcionar à infância - família, oportunidades educacionais e brincadeiras. Nessas tardes de sol, elas vêm para aprender a fazer vidros, estar em contato com esta tradição milenar egípcia e, também, para aprender sobre reciclagem, como se o mundo pudesse ainda ser salvo da ganância da humanidade! E elas acreditam nisso - todos aqui!!! Nessa mesma vida, a gente toma sorvete de creme coberto de estrelas de chocolate bem no meio da tarde, imaginem! É porque estas, tardes, não são feitas para o trabalho cerceado por quatro paredes...são tarde livres, feitas até mesmo para se tomar sorvete estrelado. Até a madrugada, quase-manhã, eu também passei a conhecer. No caminho de casa, me deparo diariamente com a classe trabalhadora recém emergida dos buracos do metrô. Eles se aglutinam, com seus casacos e cachecóis, no entorno das barracas montadas nos pontos de ônibus, para tomar café com bolo de mandioca. Ao avistá-los, ainda de saltos altos, desço do meu carro e peço também uma média. Sorrimos entre nós, pois eles sabem de onde venho e eu sei de onde eles vêm. Somos irmãos, paulistanos, nos solidarizamos assim, no fogo da alvorada.